Em termos gerais, o ser humano é um animal que inclui uma psicologia particular inerente. E essa psicologia comporta uma natural variabilidade, associada às diferenças individuais, e é expressa de formas diferentes em diferentes circunstâncias.
Esta psicologia assenta em forças primordiais poderosas que influenciam fortemente o nosso comportamento, como aludiu Friedrich Nietzsche. O impulso sexual, o impulso à violência e ao poder, o impulso a proteger, o impulso à sobrevivência, o impulso à concupiscência e ao prazer. Impulsos com que forçosamente temos de lidar.
O psicólogo Sigmund Freud dividiu a atividade da psique humana em três níveis: consciente, pré-consciente e inconsciente (ou subconsciente). Com o consciente e o pré-consciente separados do inconsciente por um filtro mental, que impede que conteúdos demasiado perturbadores para o indivíduo se tornem conscientes. Esta filtragem é feita com recurso a ferramentas que a psique usa para autorregular os seus conteúdos mentais, tais como a ofuscação, a repressão e o recalcamento. Mas com a perda da consciência, como quando se usam drogas (incluindo bebidas alcoólicas) e durante o sono, esse filtro torna-se menos eficaz, levando, por vezes, a experiências perturbadoras como alucinações e pesadelos.
De mencionar que sonhos também podem dramatizar a procura de satisfação de desejos frustrados e até inconfessos, a procura de resolução para problemas ou de respostas.
E o psicólogo Carl Jung estruturou a própria psique humana em três instâncias interagindo entre si: id, ego e superego. O id dizendo respeito aos instintos animais, aos impulsos básicos. O superego, na articulação dos nossos ideais. Com o ego a procurar gerir ambos, o lado instintivo e o lado ideal.
O ego é uma estrutura psíquica vulnerável que vai evoluindo com as experiências e a vida mental, com a socialização do ser humano, que procura se desapegar da sua natureza impulsiva e das exortações do meio percepcionadas e integradas.
Assim quando falamos vulgarmente de egocentrismo, ou egoísmo, não estamos exatamente a falar do ego, como estrutura psíquica, mas na sua inflação, no seu exagero, que leva ao narcisismo.
E da mesma forma que o ego pode ser exagerado, também pode ser diminuto, com traumas e outras experiências negativas que bloqueiam o seu desenvolvimento e por vezes até o fazem regredir, enfraquecendo-o e reduzindo a sua capacidade para gerir as outras estruturas psíquicas, nomeadamente o id e o superego.
E comumente é considerada a totalidade da nossa psique como o nosso "eu". Um "eu" que é o centro decisor do nosso próprio comportamento na vida quotidiana.
Este "eu" é aparentemente uma estrutura apenas ao nível mundano, que em experiências espirituais, como a meditação, parece se esbater, dando lugar à experiência de integração cognitiva com o meio envolvente, quebrando as barreiras cognitivas entre o indivíduo e o seu meio envolvente, havendo a experiência do estado chamado mindful, o foco da actualmente popular técnica de relaxamento chamada Mindfulness.
E o ser humano manifesta-se em mais que as suas ideias e expressão verbal. É também caracterizado pelos seus comportamentos não verbais, pelas suas ações no sentido lato. E nisto eu acredito na existência de um espírito para lá do corpo, energético, que é marcada pelos nossos comportamentos e resultados deles, pela nossa vida íntima e social. Não guarda memórias, mas guarda o registo energético de experiências significativas ao eu, como traumas e aprendizagens, e creio ser em parte a origem da nossa individualidade, com as determinações impostas ou influenciadas pelas nossas características.
John Locke afirmou que o que dá a um ser humano unidade no tempo é a memória. A memória presente do passado.
A percepção é frequentemente considerada como um processo de inferência ativa, onde expectativas são combinadas com sensações complexas para estimar a estrutura do mundo. Isto usando uma forma de processamento e perspectivação particulares, que introduzem à partida expectativas próprias sobre a realidade, que vão sendo atualizadas com a experiência e a reflexão.
Immanuel Kant aludiu ao facto do "eu" está unificado na ação. O indivíduo agir como uma unidade ao ser, pensar, experimentar, na ação própria.
Como Kant, eu acredito na existência de uma essência moral no ser humano. Uma base intrínseca à moralidade pessoal, para lá da genética ou da educação. Kant chamou-lhe imperativo categórico. Eu acredito que o sentido moral, assente no imperativo categórico, no ser humano sofre a influência e é transformado pela socialização e a cultura, sendo a sua maturação mediada pelo nosso sentido crítico.
Um dos precursores da filosofia existencialista chamava-se Karl Jaspers. Ele incluía na sua filosofia o conceito de Deus, que era central às suas ideias. No entanto ele era bastante crítico da teologia da revelação cristã, e das religiões ortodoxas em geral. A sua fé numa dimensão transcendente também foi a razão porque revelava profundo desinteresse sobre os outros pensadores da sua época que se incluíam no mesmo movimento filosófico existencialista, que seguiam a linha de Nietzsche, que Deus morreu, e conceptualizavam um mundo sem Deus, como Jean Paul Sartre ou Albert Camus.
Jaspers, por seu lado, considerava que o ser humano se encontra no mundo, mas não em harmonia com o mundo.
Nós podemos raciocinar sobre a realidade que nos transcende, mas isso também implica que nos tornamos conscientes sobre as partes trágicas na nossa própria existência, como a experiência da morte, como notou o filósofo norueguês Peter Wessel Zapffe.
O filósofo do Idealismo Germânico Johann Gottlieb Fichte na sua reflexão sobre a existência ou não de corpos físicos, conclui sobre a sua incapacidade para chegar a uma conclusão, mas no seu esforço identificou uma antítese que está na essência da realidade cognoscível: o eu versus o não-eu. Uma oposição dialéctica entre o eu e o seu meio envolvente, no pensamento do indivíduo.
Isto é percepcionado com o emprego da consciência, que como se fosse uma lente, permite ao ser humano projetar no seu pensamento uma imagem geral da realidade, a sua realidade. Onde essa imagem é feita à medida do ego, que identifica algo que o transcende, o contrasta e limita: o não-eu, que mais não é que tudo aquilo com que o indivíduo não se identifica e que ele agrega, de forma melhor ou pior concertada, sob um só conceito. E assim o indivíduo identifica uma realidade exterior a si, normalmente considerada mais ou menos neutra: o mundo.
Mas também podem sentir sentimentos de perseguição e azar ou de proteção e sorte em relação à realidade, que alimentam paranóia, complexos de inferioridade, arrogância e complexos de superioridade, entre outras coisas.
Assim o nosso pensamento e a própria linguagem têm também efeitos práticos, servindo para prever, solucionar problemas, agir, influenciar.
O movimento filosófico do existencialismo desde Søren Kierkegaard, passando por Jean Paul Sartre e Albert Camus, expressou as inquietações do espírito humano sobre a sua existência imersa no mundo. O temor do momento da escolha individual em face do desconhecido, a aparente finalidade da morte, a incompreensibilidade da realidade e a dificuldade em encontrar um sentido intrínseco à existência, por exemplo.
O ser humano é acossado por dúvidas que minam o seu próprio pensamento, e que ameaçam até a sua saúde psicológica e a sua sanidade, condicionando-o, por exemplo, ao niilismo (nas suas diferentes formas) e à decadência.
Para se proteger na percepção destas realidades difíceis de suportar, o ser humano emprega mecanismos de defesa, de acordo com o filósofo norueguês Peter Wessell Zapffe. Nomeadamente faz uso dos mecanismos de isolamento - procurando reprimir o pensamento destas realidades -, de apego - abraçando coisas na vida que oferecem a ilusão da segurança -, de diversão - nos distraindo da realidade pela ofuscação - e de sublimação - usando a capacidade de eufemizar, tornando leves verdades pesadas.
E segundo a neurociência, o ser humano também tem uma predisposição a acreditar na informação que recebe, por vezes independentemente da sua veracidade, e a seguir outras formas de comportamento mais simples e menos exigentes. Pôr em causa criticamente a informação que se recebe exige um esforço suplementar, que requer maior atividade cerebral e maiores recursos mentais, que existem em quantidade limitada no ser humano. Esta tendência natural à credulidade e sugestibilidade embora mais pronunciada na infância, permanece durante toda a vida.
E na experiência disto tudo, o ser humano, durante a sua vida, vive intimamente a tensão entre a sua procura por aceitação social e a sua procura por autenticidade. E com o medo de não ser aceite como é, muitas vezes sacrifica a sua autenticidade pela esperança de aceitação social, segundo o médico Gabor Matè. Experimentando o medo de não ser aceite e sentindo a pressão social, o indivíduo escolhe suprimir a sua forma particular de ser para satisfazer a sociedade e se integrar. E a incapacidade significativa do ser humano conseguir se expressar autenticamente leva progressivamente a problemas psicológicos e mesmo a doenças somáticas, cujo esforço na procura da expressão autêntica de quem se é, segundo o médico Gabor Matè, ajuda a curar.
E apesar disto há a capacidade de permanecer otimista. À capacidade de permanecer otimista perante experiências desconfortáveis como a dor, a culpa e a morte, a que o psiquiatra austríaco Viktor Frankl chamou de otimismo trágico. Na dor será possível encontrar realização pessoal, na culpa existirá a possibilidade de aprimoramento, e na morte a oportunidade de reconhecer a transitoriedade da vida e utilizá-la como catalisador para decisões responsáveis.
Viktor Frankl baseando-se na sua identificação com a filosofia existencialista e apoiando-se nas suas vivências trágicas, que incluíram o encarceramento em campos de concentração nazis, reconhecia no ser humano uma profunda necessidade por significado pessoal. Uma busca por significado e um desejo de, agindo de acordo, o cumprir, de forma a se realizar e ser feliz.
Frankl salientou no entanto que o sofrimento não é necessário para descobrir o sentido de vida, e que só se configura como necessário quando é inevitável.
Por sua vez o filósofo Arthur Schopenhauer via o ser humano escravizado pelo desejo. Vítima de um desejar contínuo ou, na sua contrariedade, a experiência do aborrecimento e da dor. Ele via neste mundo apenas desejo insatisfeito, vontade não realizada, aborrecimento e dor.
Karl Jaspers, que começou como psiquiatra, tendo depois se dedicado à psicologia e eventualmente à filosofia, delineou três fases essenciais da existência humana: orientação, existência e transcendência metafísica. Onde a consciência humana começa por levantar questões subjetivas e existenciais sobre si própria - por exemplo "Quem sou eu?" - e sobre a base do seu pensamento, que não consegue responder a este nível, e encontra conflitos internos que a urgem a refletir existencialmente sobre si própria e a evoluir para o nível de autorreflexão existencial. No nível de introspecção existencial, então, o ser humano levanta questões metafísicas sobre si próprio e a sua origem, que não pode começar a responder sem a consciência que a existência é, a um nível fundamental, transcendente, e que a verdade é metafísica.
O psiquiatra e filósofo Iain McGilchrist aborda isto ao escrever:
Perante a teoria mecanicista da realidade, decorrente de René Descartes, de que a essência da matéria é extensão, e assim a matéria é basicamente formas geométricas tornadas concretas, que têm uma forma e um tamanho e que estão em movimento, Gottfried Wilhelm Leibniz contrapunha que desta forma na sua natureza não há uma origem para a sua atividade.
Jaspers via na existência humana a experiência de uma fé em algo maior que nos sentimos compelidos a acreditar. E na procura de transcendência, associada a essa experiência, há um movimento em direção a uma unidade e uma estabilidade maiores, que aparentemente nunca cessa.
O psicólogo e filósofo William James afirma sobre isto que:
Frankl via no homem a necessidade de uma tensão interior, gerada pela diferença entre aquilo que a pessoa é e aquilo que deveria ser, numa intensidade moderada. Vendo-a como algo imprescindível para a saúde mental, para que o ser humano consiga se tornar aquilo que ele pode ser.
E quando privado desta tensão, o ser humano encontrará uma maneira de criá-la:
Abraham Harold Maslow, famoso psicólogo, criador da pirâmide da hierarquia das necessidades humanas, supostamente identificou mais tarde na sua carreira um estado para lá do topo da atualização pessoal no seu diagrama, que chamou de autotranscendência. A sua inspiração veio de pessoas como a Madre Teresa de Calcutá, que observava que, no seu comportamento, transcendiam o egocentrismo dos padrões de pensamento quotidianos, e se colocavam para lá da noção do ego individual. Pessoas que tinham atingido o estado de atualização pessoal e que tinham o desejo aparente de se identificar com algo maior que o ego individual, onde as necessidades do indivíduo são subordinadas de forma significativa ao serviço aos outros.
Segundo Jaspers, o estado de procura incessante (espiritual) é como nos relacionamos simbolicamente com o transcendente abstrato, que é comunicado ao indivíduo através de símbolos. No mundo nós podemos identificar vestígios ou símbolos do transcendente: na arte, na religião, na natureza, na filosofia, nas nossas vidas quotidianas. Até quando reconhecemos algo novo como verdadeiro para nós, e experimentamos felicidade.
O filósofo e escritor americano David Bentley Hart observou que:
Para o filósofo do idealismo germânico Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, a arte tinha necessariamente de invocar o transcendente, ilustrando o que não pode ser dito, ou não pode ser classificada como arte.
E como não surge à mente uma imagem concreta da transcendência, ela não pode se materializar diretamente na existência. A transcendência tem de ser intuída e decifrada com base em símbolos através da subjetividade pessoal, segundo Jaspers.
Este processo de descodificação ajuda a ilustrar a incerteza e a inquietação da existência e a sua natureza dinâmica e transitória: traz a transcendência à mente, mas não de uma forma em que a transcendência, Deus ou a simbologia destes sejam de todo compreendidos. Assim, pensamos a transcendência, Deus e a própria existência por intermédio de símbolos, se a consciência está receptiva.
Iain McGilchrist sobre isto afirma que:
Assim nós somos seres - também como Kierkegaard afirmava - que procuram transcender os seus limites, pelas situações que escolhemos ou somos forçados a enfrentar e as opções que se apresentam ao nosso entendimento, imersos numa realidade fluída, transiente e ininteligível, que tem de ser interpretada. Imersos num ambiente educativo apelidado de "perverso", onde os estímulos recebidos não são necessariamente fidedignos e as regras (do mundo, da sociedade) não são imutáveis, nem necessariamente rígidas, com uma aplicação relativa. Em contraste com os ambientes educativos "doces" onde os estímulos são fidedignos e as regras fixas, como num jogo de xadrez.
E perante a realidade quotidiana devemos decidir sobre nós próprios, concluir por nós próprios, e fazê-lo sem qualquer certeza ou apoio exterior, ou conhecimento objetivo total. Isto para viver autenticamente. Ou deixamos que o curso dos eventos decida sobre nós, nos omitindo e desaparecendo no avançar da história coletiva. Ou, pelo contrário, lidamos com os eventos nós próprios, assumindo a responsabilidade e tomando decisões próprias, e aceitando e abraçando as consequências, e aprendendo com elas.
E assim, mais que tempo, o momento presente, o que realmente temos, como seres humanos, é a possibilidade - e a realidade - de ser, em cada momento, aquilo que queremos ser, e com isto nos definirmos como seres. Onde toda a realidade se conjuga para nos dar essa oportunidade. E assim a verdadeira capacidade, no ser humano, é a de escolher, mediante o possível da situação, como proceder. E é aqui que pode ser encontrada a real virtude no ser humano. No entanto a percepção correta do comportamento, e do seu valor, normalmente já é impossível até ao próprio.
Viktor Frankl atribuía total importância à procura de significado e ao próprio significado, advindos da ação individual. Para ele, o significado íntimo dependia da ação própria no sentido de participar na realidade, na beleza dela, procurando encontrar e cumprir um significado pessoal, perante uma diversidade, uma riqueza de possibilidades de como a abordar.
Como diz a sabedoria popular portuguesa:
Nas palavras de Frankl:
Com a incapacidade de encontrar sentido e significado na sua vida, o ser humano, segundo Frankl, experimenta frustração existencial. Esta frustração pode ser agravada pela falta da receptividade do meio social às interrogações do indivíduo.
As sociedades ocidentais de uma forma mais ou menos premeditada e explícita procuram dar um sentido de vida aos seus cidadãos. Objetivos como a procura por prazer, por felicidade, a procura por satisfação de desejos e impulsos - que a mesma sociedade alimenta e incentiva a criar -, viajar, ter carro, namorar, casar, ter filhos, ter um segundo e terceiro carros, uma segunda habitação, uma terceira habitação. E o pensamento dominante contemporâneo não dá qualquer crédito à ideia de um sentido de vida transcendental. De facto, em geral é argumentado que a vida não tem sentido nem significado. E isto tudo, de acordo com Frankl, conduz a um vazio existencial, e a um materialismo exacerbado. Isto por não oferecer um sentido verdadeiramente válido para o indivíduo e por propôr - herança de algumas vertentes do Existencialismo - que o único significado que a vida tem é aquele que o próprio indivíduo cria.
Este mal estar é agravado pela noção de pandeterminismo, que afirma o ser humano como um ente condicionado e determinado. Em outras palavras, como alguém sem liberdade para agir: uma vítima da realidade.
Frankl atribuiu esta situação e a propagação do vazio existencial nas sociedades ocidentais a duas perdas que a humanidade sofreu ao longo de sua história:
E este vazio existencial, decorrente da falta de um sentido de vida pessoal, leva a um ser humano que não sabe verdadeiramente o que quer. E nessa carência e confusão, ele pode submergir seu querer e vontade fazendo o que os outros fazem, o que resulta no conformismo, ou fazendo aquilo que os outros exigem dele, entregando-se a um totalitarismo ideológico social.
Isto significa que, em decorrência do sentimento de falta de sentido pessoal, o homem tende a perder sua autonomia individual, entregando-se a fenómenos coletivos que procuram recriar esse sentido e dar significado à sua vida.
Atualmente nas sociedades ocidentais, a vida da maioria dos cidadãos está fundamentalmente determinada por uma lógica e necessidade empresarial. Que ordena a vida da maioria dos cidadãos e lhes dá um propósito dentro da máquina industrial. Mas ainda assim muita gente reporta não encontrar sentido no seu trabalho, limitando-se a trabalhar para viver.
E na ordem mundial atual, o capitalismo tornou-se mais do que um sistema económico e financeiro. Comumente assiste-se à conflação errónea do capitalismo com a natureza humana, com base nos traços comportamentais da ganância, do egoísmo e da competitividade, que tornam este sistema económico no que se crê ser a expressão natural do ser humano. E com isto abolimos os seus limites lógicos, de sistema económico, levando a uma invasão progressiva de todas as áreas da vida humana de uma ótica capitalista, de negócio.
Isto é especialmente fácil de identificar no conceito da "marca pessoal", na qual uma pessoa se converte numa espécie de marca empresarial, subordinando toda a sua vida à lógica do mercado. Como acontece com certos youtubers, estrelas de Instagram, etc.
Esta tendência é associada a problemas psicológicos como solidão, baixa autoestima, exaustão e depressão.
Mas não só vedetas das redes sociais se tornam vítimas desta ideologia, mas toda a população exposta ao capitalismo, que progressivamente tem passado a pensar de uma forma mais desapaixonada, economicista e individualista, preterindo valores humanos como a compaixão, a misericórdia, a reciprocidade, a amizade e mesmo o amor. Os seres humanos cada vez mais pensam exclusivamente em termos de "O que há nesta situação para mim?" e "Porque investir em algo que não me dá dinheiro?", arrefecendo os seus corações e as suas relações, tornando-se profundamente cínicos e egoístas, e com isto se isolando dos outros.
Também o ser humano, na experiência do seu próprio vazio existencial, pode procurar recriar esse significado e sentido pessoais através da procura de poder - como Nietzsche descreveu - ou se submergindo num hedonismo impulsivo e total.
Entretanto, como o prazer deveria ser um resultado, a pessoa perde de vista toda e qualquer razão para senti-lo, todo e qualquer fundamento para ser feliz. Como resultado, acaba caindo no exagero e no desequilíbrio, perdendo-se.
O desejo de poder opera de maneira semelhante. Enquanto no desejo de prazer se buscam os resultados de ter um sentido da vida, na procura de poder, buscam-se os meios para alcançá-lo.
O poder é um meio para o sentido da vida, mas quando o homem é incapaz de ou se recusa a ver o sentido, concentrar-se-á em obter o poder.
O desejo de dinheiro é descrita por Frankl como a forma mais primitiva da procura de poder.
Segundo Viktor Frankl:
Outro resultado possível ao lidar com os problemas relacionados com a procura de um sentido para a vida, segundo Viktor Frankl, é a frustração existencial.
A frustração existencial acontece quando as pessoas duvidam do sentido da sua vida ou já perderam as esperanças de encontrá-lo. Isto não constitui por si só uma patologia. No entanto, ela pode ocasionar psicoses, como o vazio existencial.
Já diz a sabedoria popular:
Para a Logoterapia (psicoterapia baseada nas ideias de Viktor Frankl) o vazio existencial é a psicose coletiva atual, e apresenta três sintomas básicos: depressão, agressividade, vício e a excesso de sexualidade.
Isto tem conduzido as sociedades ocidentais a um materialismo, consumismo e hedonismo exacerbados, e a um ressurgimento do ímpeto nacionalista suportados por uma visão redutora da vida, caracterizada pelo exaltamento do egoísmo e do egocentrismo, pela perda de valores morais, pelo declínio de padrões éticos. Isto tudo condiciona o conflito interpessoal e a falência e dissolução da sociedade e da própria civilização, levando a uma sociedade decadente, progressivamente sem moral, submergida numa visão absolutamente materialista e egoísta da vida - virada para o eu -, ativamente destruindo as relações humanas e deixando os seres humanos sós e isolados, atomizados.
Frankl apontava em suas obras para um processo emergente de adoecimento espiritual da sociedade, para uma psicose crescente da humanidade.
Nisto também deve ser reconhecida a influência dos meios de comunicação, da publicidade, da propaganda e da indústria de relações públicas no condicionamento e na manipulação ao longo da história do comportamento dos seres humanos, individualmente e das populações, à guerra, à agressividade, à competição, ao conformismo, ao isolamento, ao totalitarismo, não necessariamente de acordo com os interesses reais destes. Muitas vezes vendendo os seus serviços de forma mercenária a quem os pode pagar e trabalhando para fins antiéticos e imorais.
Com isto a comunicação social, a política e a indústria do entretenimento usam o poder das ideias para manipular as populações.
E nisto há uma muito célebre experiência chamada de Universo 25, do psicólogo e etólogo americano John Bumpass Calhoun, que procurou criar uma utopia para ratos, que eventualmente colapsou por excesso de população, de socialização e de competição, declinando assim como os seus habitantes, até morrerem quase todos os ratos.
Esta experiência muito interessante por várias razões, incluindo implicações para as sociedades humanas, apresentou uma ideia muito importante: a existência de um limite para a sociabilidade, a partir do qual o comportamento animal, em especial o social, começa a colapsar, levando a uma degeneração comportamental do animal.
Atualmente vivemos, na sociedade ocidental, um ambiente de contínua sobrestimulação e de pressão social extrema que contribui para um sentimento de depressão e degeneração do comportamento humano, pela pressão a excedermos os nossos limites de sociabilização.
Fyodor Dostoevski, escritor russo do século XIX, afirmou:
Por outro lado, para os primeiros filósofos na Grécia antiga e para os filósofos do Idealismo Germânico, o indivíduo é um microcosmos da realidade exterior que o inclui. Para os antigos gregos, a realidade exterior da cidade-estado e do cosmos físico, e para os idealistas, da ordenação do mundo das ideias, refletido na cultura, arte, religião, filosofia.
De acordo com a Logoterapia, o homem é um ser que goza de liberdade e de responsabilidade.
A liberdade do ser humano é condicionada, pelas forças não compreendidas e não dominadas do seu subconsciente, pelos seus impulsos, pelas suas emoções, experiências e conjuntura social, pelo menos. E essa liberdade à priori também não é irrestrita, mas limitada. Não é possível ao homem fazer tudo o que quer. Ele tem limitações na sua capacidade.
O ser humano é livre na medida em que é capaz de se impôr acima dos condicionamentos biológicos, hereditários, ambientais, instintivos. Desde que o homem possa e queira exercer sua liberdade, não será dominado por eles. Há, no entanto, aspectos psicológicos que são as bases da identidade do indivíduo, e tentar mudá-los, ou mudá-los, muda o indivíduo.
Trata-se, portanto, da liberdade de vivenciar seus valores e de tomar uma posição em face dos seus condicionamentos e determinações.
Esta liberdade de que o ser humano dispõe para fazer suas escolhas é expressa pelo conceito de liberdade de vontade.
É justamente por conta dessa liberdade, que não pode ser tirada do ser humano, que pode, até seu último suspiro, configurar sua vida de modo a que tenha sentido, de acordo com as possibilidades que se lhe apresentam.
A liberdade de vontade está diretamente relacionada com a responsabilidade.
Na liberdade de escolher é que o homem pode ser responsabilizado por suas decisões, pelas condutas que adota na sua vida.
Em outras palavras, a liberdade torna o homem responsável pelas respostas que oferece ao mundo.
Para Frankl, quando a liberdade não é vivida com responsabilidade, corre o risco de degenerar-se em arbitrariedade. Assim como destroí a psicologicamente a pessoa.
E nisto, a ideia clássica de perfeição de ser, de um ser humano que nunca erra, é uma impossibilidade. Porque a realidade muda constantemente e por vezes de forma radical. E isso é impossível de acompanhar. Assim a perfeição que pode existe, ao nível do comportamento, é a de ser receptivo à realidade e flexível psicologicamente para mudar em função dela, procurando a acompanhar. Ainda que, por vezes, este movimento de crescimento, de adaptação, leve a resultados que consideramos tudo menos perfeitos. A perfeição que consideramos normalmente é uma perfeição de resultados, que depende de toda uma conjuntura que nos ultrapassa e é imprevisível e inintelegível na sua globalidade.
E embora vivamos num contexto de competição, por recursos - que em geral existem atualmente em maior abundância que o necessário -, devemos ter uma atitude de brincadeira, leveza, lealdade, desportivismo, compreensão e misericórdia, porque a existência - embora nós a vejamos em geral de um ponto de vista particular, nosso, atribuindo especial importância à nossa própria vida - é primeiramente um fenómeno coletivo, social, onde a Natureza subsiste e progride pelo destino das gerações das suas criações transitórias e finitas. Numa infinita corrente de vida, da qual somos apenas um elo.
Nesta realidade, nós, como também os outros animais deverão certamente fazer, criamos interpretações de um mundo que nos transcende, e promete sempre o fazer. Fazemo-las para procurar compreender o meio à nossa volta, e até para tentar procurar comunicar com facetas da natureza que identificamos. Criamos codificações, onde algo incompreensível passa a ter uma forma, um significado e sentido racional e objetivo, recriando essas coisas para nós, como falava Jean Paul Sartre. Criando, por exemplo, uma relação pessoal com um Deus oculto. Esta divindade, como a transcendência, permanece velado para nós, mas criando uma relação com esse Deus, uma conceptualização da transcendência se torna tangível para nós. Isto cria uma magia, um entusiasmo pela beleza da existência por nós reconhecida.
Para Jaspers este movimento de transcendência tem de ser direcionado a Deus. Direcioná-lo para o mundo material resulta em fracasso. Permanecer focado no mundo material, fragmentado e imperfeito como ele e nós somos, leva ao falhanço.
Para Frankl, a transcendência de si mesmo, ou autotranscendência, diz respeito ao fato de que o ser humano sempre se dirige para além de si próprio. Na visão do psiquiatra quando o ser humano se concentra em si mesmo, ele se distorce.
E esta autotranscendência tende a acontecer em função do sentido, e não do bem-estar pessoal.
Para se tornar inteiramente ela mesma e se realizar, a pessoa precisa de se dedicar a uma tarefa ou a alguém, sendo a autorrealização um efeito colateral da plenitude de sentido, da transcendência pessoal.
Também para Frankl, a felicidade não pode ser procurada. A procura da felicidade obrigatoriamente faz com que o indivíduo se afaste dela. E assim o ser humano não deve buscar a felicidade, mas sim uma razão para ser feliz.
Essa razão reside precisamente na realização do significado que a pessoa é convocada pela vida a realizar nos acontecimentos do seu dia a dia. O que faz a pessoa feliz, quando é bem sucedida na busca do sentido. Mais do que isso: ela se realiza.
Nos eventos que compõem as nossas vidas e naqueles que observamos na vida dos outros, vemos sucesso e fracasso, vitória e derrota, bom e mau. Estas dualidades correspondem abstratamente ao fortalecimento e à destruição da vida, ao fenómeno que dá vida e ao que tira a vida. O sucesso que nos anima e o fracasso que nos abate.
Para Frankl, a dualidade sucesso/insucesso no plano da vida social está intimamente relacionada com os sentimentos pessoais de desespero e realização. Sendo que o sucesso pode conviver com desespero, e o insucesso social pode coexistir com sentimentos de realização pessoal.
Nisto há a capacidade de lidar com a realidade e através do uso da imaginação e de perspetiva, reinterpretar e resignificar o evento, transformando algo negativo numa experiência positiva, e algo positivo numa experiência negativa, levando a sentimentos de realização e desespero.
Como disse o poeta John Milton:
O artigo científico “The Self-Simulation Hypothesis Interpretation of Quantum Mechanics", do instituto Quantum Gravity Research de Los Angeles, supõe que a realidade é uma autossimulação que se gera a si própria, e que os seres vivos são sub-ideias, que populam sistemas de ideias (o mundo, o universo), utilizadas para testar possibilidades para a evolução da realidade absoluta. São como hipóteses lançadas para um ambiente seguro, onde podem ser testadas, durante um espaço de tempo.
Schelling defendia que no intimo de cada ser existe uma oposição polar. Comparava-o a um ímã, cujos polos opostos são inseparáveis um do outro, ainda que opostos.
Assim eu considero que o ser humano contém em si uma bipolaridade em relação à sua essência - à hipótese que lhe deu origem -, que representa ao longo da sua vida, sobre as diferentes facetas da sua existência individual. Oscilando sobre polos opostos ideológicos, que podem parecer estranhos e exóticos a quem observa de fora, mas são compreensíveis e familiares a quem os vive. Num fenómeno de dialética hegeliana que caracteriza a sua forma de ser e é demonstrada no seu percurso de vida.
Uma bipolaridade criativa construída sobre a lógica intrínseca à nossa mente, que pode fazer e faz uso na nossa ideia de razão. Esta realidade é explorada pela disciplina humana da psicologia.
E a nossa própria dificuldade em aceitarmos esta contradição em nós e as correntes de pensamento, ideias e comportamentos resultantes, a dificuldade em pugnar pela nossa autenticidade e as nossas frustrações não resolvidas alimentam aquilo que Carl Jung chamava de "lado sombra". Um polo do nosso eu que existe em direta oposição à nossa forma de ser consciente e reprimida, e que influencia o nosso comportamento e até o dita segundo a nossa vontade ou com as circunstâncias.
E o ser humano usa, como já mencionado, ferramentas como a repressão, o recalcamento, a ofuscação, e o forcing de ideias para manipular o conteúdo da sua consciência e manter ideias indesejáveis inconscientes. Estas geralmente se manifestam mais nitidamente em períodos de menor consciência, como nos sonhos ou quando a pessoa está embriagada ou sonolenta.
Esta especificidade do ser humano se manifesta geralmente em problemas existenciais. Na experiência de situações que nos insatisfazem profundamente, e até nos alarmam, e que estão em oposição à nossa própria vontade consciente, que no entanto, na sua fraqueza, frequentemente sucumbe ao que acredita que não quer.
A psicóloga Jane Loevinger propôs em 1976 uma escala de desenvolvimento do ego, na qual é teorizado o ego maturar e evoluir progressivamente através de diferentes níveis ao longo da vida, como o resultado da interação dinâmica entre o eu e o ambiente exterior.
Este sistema de classificação do ego dá ênfase ao desenvolvimento moral, mas aplica uma perspectiva mais abrangente, e tem por base estudos empíricos.
Loevinger descreve o ego como um processo, em vez de como um objeto. É a estrutura de referência (a lente) que o indivíduo usa para interpretar o mundo e agir. Contém o controlo de impulsos e o desenvolvimento da personalidade, com a forma de relação interpessoal e preocupações cognitivas, incluindo a consideração de si próprio.
O modelo de Loevinger esboça uma sequência de nove estados, com cada um deles apresentando uma perspectiva progressivamente mais complexa do indivíduo se ver a si próprio em relação ao mundo. Cada estado proporciona uma forma de referência para organizar e definir experiências ao longo da vida do indivíduo:
No desenvolvimento do ego adulto, Loevinger considerava a emergência de um sentido de consciência pessoal no qual o indivíduo se torna consciente das discrepâncias entre as convenções e o comportamento próprio. Para alguns, o desenvolvimento atinge um platô e não continua; para outros, maior integração e diferenciação do ego tem lugar. Seis dos estados no desenvolvimento do ego ocorrem na idade adulta: conformista, autoconsciente, consciencioso, individualista, autónomo e integrado. Loevinger acreditava que a maioria dos adultos estavam no nível autoconsciente.
Com a aceitação da escala do desenvolvimento do ego de Loevinger por investigadores internacionais do desenvolvimento humano surgiu a concepção de um décimo estado de desenvolvimento - identificado pelo termo "Fluindo", que eu adicionei em baixo.
Eu apliquei ligeiras alterações aos estados originais de Loevinger, nomeadamente ao pré-social e ao impulsivo, pois, segundo desenvolvimentos recentes da investigação científica, do estado impulsivo adiante também deverá estar incluída a experiência de impulsos altruístas e programações pró-sociais, como o choro quando ouve outras crianças a chorar ou a tentativa de ajudar adultos quando identificada essa necessidade pela criança, e - ao acreditar me lembrar do meu processo de nascimento e do meu comportamento nele e devido a experiências que apontam à existência de uma lógica interna natural ao bebé aos 19 meses, que antecede a aprendizagem da fala - eu acredito que o estado pré-social termina antes do nascimento do bebé.
Investigadores da Universidade de Pompeu Fabra, Barcelona, Espanha, concluíram, baseado em dois estudos, que bebés com 19 meses revelam indícios conclusivos do uso de uma lógica interna natural, antes de aprenderem a falar, para lidar com incertezas sobre a sua experiência. Esta lógica natural ajuda na aprendizagem da linguagem e em outras áreas do conhecimento.
A escala de desenvolvimento do ego de Jane Loevinger adaptada apresenta assim os estados:
E esta experiência tem fim? A existência tem fim?
Existe a hipótese real, que precisa de ser considerada, de que a morte física é o final da existência, nos decompondo, com ela, em elementos básicos da Natureza, assim como a concepção intrauterina será, então, a nossa origem, em uma realidade sem um sentido profundo.
Para lá dessa hipótese, os filósofos Arthur Schopenhauer e Eduard von Hartmann conceberam, até pela proximidade das suas sensibilidades, duas hipóteses para o fim da existência, que embora semelhantes, se revelam diametralmente opostas.
Schopenhauer via no ascetismo, através da negação da vontade, negando os seus desejos e negando perseguir as seduções do mundo, a forma de atingir a paz. Negação do sexo, e outros desejos, assumindo uma indiferença perante tudo: a renúncia deste mundo em favor do nada. Isto à imagem de crentes e santos cristãos, e seguidores de outras religiões, como hindus e budistas. A abolição da vontade que resulta em um ser vazio. Em nada.
É comprovado empiricamente que o ser humano quando começa a ter uma vida menos ativa (por exemplo, com um período de férias) começa a degenerar. A mente perde objetividade, o corpo perde resistência, musculatura, capacidade, o humor é afetado adversamente por isto. O ser experimenta um declínio de capacidades. Normalmente se experimenta um nervosismo miudinho e inquietação, acompanhado pelo vulgar pensamento de que "não consigo estar parado". Muitas vezes conota-se essa pessoa com a "preguiça", e até se comenta socialmente que "se está a deixar ir" quando essa inatividade se prolonga. Tudo apontando para uma perda de qualidades desse mesmo indivíduo. Como se estivesse lentamente a se decompor.
Também existe o ditado popular que expressa um sentimento semelhante:
O provérbio "cabeça vazia, oficina do diabo" é muito utilizado para se referir à falta de ocupação resultando em maus pensamentos e suas consequências, além de valorizar a ocupação, o preenchimento do ócio. Reflete uma visão de mundo em que o ócio é visto como ameaçador da moral. Dessa forma, o ócio desorganizador, que traz a delinquência, a loucura, deve ser preenchido pela ocupação organizadora.
Ao tempo livre associado ao ócio é associado valores negativos através dos tempos. Incorporou ao longo da história o valor maléfico, promotor do enfraquecimento.
Também existe a ideia que quando uma pessoa chega à reforma e não tem nada que queira fazer com ela, tende a morrer rapidamente.
O ser humano é um ser que prospera em fluxo, com sonhos, objetivos e trabalhando para eles. Sem isto, se entrega à inatividade, se abate e esmorece.
Com isto não quero dizer que quem morre, pelo em parte, devido à inatividade deixa de existir, pois eu acredito na existência de uma consciência para lá do corpo (a alma). Seguindo esta lógica, onde a vontade do indivíduo é decisiva na sua existência, só perdendo totalmente o desejo de seguir existindo, se perderá a existência individual.
Eduard von Hartmann, por outro lado, acreditava que a felicidade do indivíduo não era possível de obter, aqui ou no futuro. Ele difere de Schopenhauer em fazer a salvação pela negação da vontade de viver depender de um esforço social coletivo, e não em ascetismo individual. Nós devemos, de forma provisional, afirmar a vida e nos devotarmos à evolução social, em vez de perseguirmos uma felicidade que é impossível.
A moralidade em Hartmann assenta no entendimento de que tudo é, em última instância, uno e que, apesar de todos os esforços para conquistar a felicidade serem ilusórios, ainda assim antes da libertação ser possível, todas as formas da ilusão devem aparecer e ser tentadas ao máximo. Até aquele que reconhece a vacuidade da vida, melhor serve os desígnios mais elevados dando-se a si próprio à ilusão, e vivendo com tanta intensidade como se acreditasse que a vida é boa. Isto porque é só através da tentativa constante de ganhar a felicidade que as pessoas podem aprender a atração do nada. E quando este conhecimento se tornar universal, ou pelo menos generalizado, a salvação virá e o mundo deixará de existir. Harmann advoca as diferentes formas como os seres humanos esperam encontrar a felicidade e foram levados inconscientemente a trabalhar para o objetivo final, de desejar a inexistência. Tudo promessas vãs, e reconhecidas como tal no estado final, que vê todo o desejo humano como igualmente vão e o único bem na paz do nada.
Em largo acordo com Hartmann, eu vejo um fim à existência do indivíduo pela exaustão da sua capacidade de desejar. Abstratamente pela exaustão das possibilidades de evolução associadas à hipótese formulada que originou a nossa existência individual, que a conduz à sua conclusão e término. E quando coletivamente todos - ou a maioria - dos seres individuais não desejarem realmente existir e não existir uma vontade absoluta suficiente para existir coletivamente, dando-se um esgotamento das possibilidades da existência, a existência coletiva colapsar-se-á no Nada, e o Absoluto repousará temporariamente, até a entropia levar a uma nova criação, diferente, mais evoluída, e o ciclo repetir-se-á outra vez.
Com as experiências, um ser individual evolui, mesmo que não as aproveite para refletir e mudar o seu comportamento. A experiência em si produz uma transformação no sujeito, que se expressa energética, biológica e comportamentalmente. O mesmo acredito que se passe com o Absoluto.
Mas como Schopenhauer defendia, e o budismo defende, podemos tentar "atalhar" o caminho para a inexistência ao procurar negar conscientemente o desejo. Mas será uma batalha muito difícil contra os nossos impulsos à existência e realização pessoais.
Existe uma condição medicamente reconhecida chamada de morte psicogénica, que é descrita como ocorrendo quando a pessoa desiste de viver.
Disto a sabedoria popular também parece ter conhecimento, ao afirmar:
O ser humano já normalmente, de forma subconsciente, oscila entre a negação pessoal e a autorrealização, pela adoção de condutas autodestrutivas, que conduzem à involução, e de condutas saudáveis e afirmadoras da vida, que levam à evolução. E também pela estagnação, que, por entropia, conduz à involução. Sendo que isto é respectivamente o verdadeiro mal e o verdadeiro bem, o negativo e o positivo, em termos existenciais. Porque como Friedrich Nietzsche afirmava, todo o ser tem o desejo de poder e afirmação pessoal, e a sua negação conduz à frustração dessa hipótese.
Com a evolução no sentido positivo ou negativo, a capacidade de pensar a ação pessoal vai-se especializando, e estreitando o seu potencial na área da dinâmica do egoísmo-altruísmo. Quando o ser está a progredir nos quadrantes positivos, abandona ideias mais extremas altruístas e egoístas, e quando progride nos quadrantes negativos abandona também ideias extremas. Quando o ser estagna num estado aproximadamente neutro, e mais instável, experimenta todo o tipo de ideias e persuasões, numa maior liberdade de conceber a sua própria ação. Isto em função dos temas discutidos, fortemente influenciados pelo estado do indivíduo na oposição positivo-negativo (eixo vertical).
Há no entanto uma maior atração ao pólo negativo no ser humano. Pois é mais fácil destruir, que construir. Evoluir positivamente de forma continuada exige predisposição a fazê-lo, esforço e fortaleza mental. Assim como também há uma forma atração no ser humano, especialmente atualmente, pelo fácil e confortável da estagnação, da omissão, da fusão com a massa popular.
A sabedoria popular alude a isto com:
De salientar que no absoluto extremo de egoísmo ou altruismo (eixo horizontal), como nos extremos positivo e negativo (eixo vertical), a existência finda, porque na incapacidade de conceber a polaridade oposta, termina a dialéctica hegeliana que sustenta a existência permitindo-lhe evoluir pelo conflito entre extremos. A possibilidade de crescer desaparece e com ela cessa a existência individual.
Egoísmo aqui é entendido como ação focada no benefício próprio e altruísmo como ação focada no bem dos outros.
Embora o verdadeiro altruísmo, para mim, inclui o pensar no benefício próprio também, mas na relação com o benefício dos outros, procurando maximizar o bem estar comum. Isto porque é impossível exercer uma ação prolongada em favor de alguém ou algo se nos descuramos a nós próprios.
Estados emocionais, experiências, interpretações e condutas positivas favorecem a evolução positiva e maturação, e vivências negativas condicionam à involução e autodestruição. Onde o ser humano é naturalmente atraído pelas duas polaridades (positiva e negativa), e experimenta por isto, especialmente em determinados momentos, a beleza e o peso de viver.
Sendo que não devemos associar uma conduta saudável e afirmadora da vida com a rejeição da morte. O sacrifício por outro, ou outros, ou um ideal, pode ser um acto afirmador da vida, e que conduz à criação de significado pessoal e crescimento, para além daqueles que tem a possibilidade de fazer o mesmo e o rejeitam. Mas também a vida não deve ser desperdiçada.
E seguindo maioritariamente um caminho de involução pessoal - de decadência - o indivíduo caminha para a sua autodestruição, não só física, mas também psicológica, incluindo espiritual, que deverá encontrar o seu fim com a destruição total de si próprio.
De referir também que os seres humanos, pelo menos, têm uma atração natural pela auto-aniquililação e pela morte, e pela integração na Natureza. Muitas vezes referenciada no chamado "peso de viver".
Os antigos gregos tinham o conceito de "henosis", que descrevia a união do indivíduo com o Uno, a Fonte ou a Mónada (o Absoluto). Em imitar o Ser Absoluto, um une-se com o Absoluto, culminando na fusão.
Arthur Schopenhauer considerava que a fusão do indivíduo com o Absoluto proporcionava uma solução ao problema da normal subordinação a um desejar contínuo.
Eu acredito que na incapacidade de um ser evoluir para integrar positivamente o Absoluto, eventualmente, de forma voluntária, o ser se entrega a um processo de autodestruição total e final, cujo resíduo resultante é absorvido pelo Absoluto.
E o sentido da vida?
Um popular sentido à vida é a reprodução. Ter filhos. Mas apenas conduz à sublimação do indivíduo de forma patológica na vida dos filhos. Procurando viver através dos filhos. E que, numa realidade que escapa largamente ao entendimento e controlo dos pais, leva à rebeldia e a uma perpetuação de forma inconsciente da família genética. Semelhante a todos os outros seres vivos, que se procuram reproduzir o máximo possível e proteger a sua herança genética.
Mas pessoalmente, ainda que como uma pessoa sem filhos nem grande desejo de os ter, vejo a reprodução misturada com um hedonismo exacerbado como uma forma vazia de viver. Que não preenche o ser humano.
Eu acredito que o sentido da vida humana, e não humana, divide-se em duas facetas:
Quando falo em fazer um legado, inclui-se a reprodução, mas pode não se restringir a esse caso, ou até o nem incluir, podendo ser também de cultura, de conhecimento, de forma de ser, de bondade. Um exemplo.
Viktor Frankl associava a estes comportamentos a realização de significado. Através deles o ser humano encontra significado na sua vida e se realiza.
Frankl, provavelmente devido em grande parte à sua história de vida particularmente difícil, via que esse significado na vida também podia ser encontrado pelo ser humano em situações extremas, onde ele identifica aquilo que a situação lhe pede, vê um sentido, e o realiza. Frankl acreditava que era possível encontrar um sentido e significado pessoais em qualquer situação.
A nossa sociedade atual assenta no legado de incontáveis civilizações que desapareceram (como os Etruscos), muitas delas até desconhecidas, e o mesmo em relação a pessoas que nos legaram o seu conhecimento (como Stephen Hawkins) e a sua forma de ser (Nelson Mandela e Sophie Scholl). Sophie Scholl quando foi executada pelos Nazis era demasiado nova para ter sido mãe, mas deixou um legado que continua a inspirar a humanidade.
O ser humano é composto de átomos, de eletrões, de protões, e a forma de ser da pessoa afeta o seu corpo e os ambientes em que vive, e as pessoas com as quais entra em contacto, e é legada. Que seja um bom legado.
Sobre a reprodução, eu acredito que um filho deve vir ao mundo, não por acidente, pelo desejo fervoroso dos pais de ter um filho, ou de governantes de ter mais uma pessoa sobre a qual governarem, mas porque no contexto da vida como se apresenta tem sentido não só para os pais, para a sociedade, para o contexto geral, mas para a criança também. Um mundo no qual há sentido ela o habitar. E da mesma forma, um filho precisa de mais do que dinheiro, precisa de atenção, amor, liberdade e de que os pais defendam o seu futuro, para que ele seja melhor, pelo menos do que seria caso contrário.
Fontes:Em termos gerais, o ser humano é um animal que inclui uma psicologia particular inerente. E essa psicologia comporta uma natural variabilidade, associada às diferenças individuais, e é expressa de formas diferentes em diferentes circunstâncias.
Esta psicologia assenta em forças primordiais poderosas que influenciam fortemente o nosso comportamento, como aludiu Friedrich Nietzsche. O impulso sexual, o impulso à violência e ao poder, o impulso a proteger, o impulso à sobrevivência, o impulso à concupiscência e ao prazer. Impulsos com que forçosamente temos de lidar.
O psicólogo Sigmund Freud dividiu a atividade da psique humana em três níveis: consciente, pré-consciente e inconsciente (ou subconsciente). Com o consciente e o pré-consciente separados do inconsciente por um filtro mental, que impede que conteúdos demasiado perturbadores para o indivíduo se tornem conscientes. Esta filtragem é feita com recurso a ferramentas que a psique usa para autorregular os seus conteúdos mentais, tais como a ofuscação, a repressão e o recalcamento. Mas com a perda da consciência, como quando se usam drogas (incluindo bebidas alcoólicas) e durante o sono, esse filtro torna-se menos eficaz, levando, por vezes, a experiências perturbadoras como alucinações e pesadelos.
De mencionar que sonhos também podem dramatizar a procura de satisfação de desejos frustrados e até inconfessos, a procura de resolução para problemas ou de respostas.
E o psicólogo Carl Jung estruturou a própria psique humana em três instâncias interagindo entre si: id, ego e superego. O id dizendo respeito aos instintos animais, aos impulsos básicos. O superego, na articulação dos nossos ideais. Com o ego a procurar gerir ambos, o lado instintivo e o lado ideal.
O ego é uma estrutura psíquica vulnerável que vai evoluindo com as experiências e a vida mental, com a socialização do ser humano, que procura se desapegar da sua natureza impulsiva e das exortações do meio percepcionadas e integradas.
Assim quando falamos vulgarmente de egocentrismo, ou egoísmo, não estamos exatamente a falar do ego, como estrutura psíquica, mas na sua inflação, no seu exagero, que leva ao narcisismo.
E da mesma forma que o ego pode ser exagerado, também pode ser diminuto, com traumas e outras experiências negativas que bloqueiam o seu desenvolvimento e por vezes até o fazem regredir, enfraquecendo-o e reduzindo a sua capacidade para gerir as outras estruturas psíquicas, nomeadamente o id e o superego.
E comumente é considerada a totalidade da nossa psique como o nosso "eu". Um "eu" que é o centro decisor do nosso próprio comportamento na vida quotidiana.
Este "eu" é aparentemente uma estrutura apenas ao nível mundano, que em experiências espirituais, como a meditação, parece se esbater, dando lugar à experiência de integração cognitiva com o meio envolvente, quebrando as barreiras cognitivas entre o indivíduo e o seu meio envolvente, havendo a experiência do estado chamado mindful, o foco da actualmente popular técnica de relaxamento chamada Mindfulness.
E o ser humano manifesta-se em mais que as suas ideias e expressão verbal. É também caracterizado pelos seus comportamentos não verbais, pelas suas ações no sentido lato. E nisto eu acredito na existência de um espírito para lá do corpo, energético, que é marcada pelos nossos comportamentos e resultados deles, pela nossa vida íntima e social. Não guarda memórias, mas guarda o registo energético de experiências significativas ao eu, como traumas e aprendizagens, e creio ser em parte a origem da nossa individualidade, com as determinações impostas ou influenciadas pelas nossas características.
John Locke afirmou que o que dá a um ser humano unidade no tempo é a memória. A memória presente do passado.
A percepção é frequentemente considerada como um processo de inferência ativa, onde expectativas são combinadas com sensações complexas para estimar a estrutura do mundo. Isto usando uma forma de processamento e perspectivação particulares, que introduzem à partida expectativas próprias sobre a realidade, que vão sendo atualizadas com a experiência e a reflexão.
Immanuel Kant aludiu ao facto do "eu" está unificado na ação. O indivíduo agir como uma unidade ao ser, pensar, experimentar, na ação própria.
Como Kant, eu acredito na existência de uma essência moral no ser humano. Uma base intrínseca à moralidade pessoal, para lá da genética ou da educação. Kant chamou-lhe imperativo categórico. Eu acredito que o sentido moral, assente no imperativo categórico, no ser humano sofre a influência e é transformado pela socialização e a cultura, sendo a sua maturação mediada pelo nosso sentido crítico.
Um dos precursores da filosofia existencialista chamava-se Karl Jaspers. Ele incluía na sua filosofia o conceito de Deus, que era central às suas ideias. No entanto ele era bastante crítico da teologia da revelação cristã, e das religiões ortodoxas em geral. A sua fé numa dimensão transcendente também foi a razão porque revelava profundo desinteresse sobre os outros pensadores da sua época que se incluíam no mesmo movimento filosófico existencialista, que seguiam a linha de Nietzsche, que Deus morreu, e conceptualizavam um mundo sem Deus, como Jean Paul Sartre ou Albert Camus.
Jaspers, por seu lado, considerava que o ser humano se encontra no mundo, mas não em harmonia com o mundo.
Nós podemos raciocinar sobre a realidade que nos transcende, mas isso também implica que nos tornamos conscientes sobre as partes trágicas na nossa própria existência, como a experiência da morte, como notou o filósofo norueguês Peter Wessel Zapffe.
O filósofo do Idealismo Germânico Johann Gottlieb Fichte na sua reflexão sobre a existência ou não de corpos físicos, conclui sobre a sua incapacidade para chegar a uma conclusão, mas no seu esforço identificou uma antítese que está na essência da realidade cognoscível: o eu versus o não-eu. Uma oposição dialéctica entre o eu e o seu meio envolvente, no pensamento do indivíduo.
Isto é percepcionado com o emprego da consciência, que como se fosse uma lente, permite ao ser humano projetar no seu pensamento uma imagem geral da realidade, a sua realidade. Onde essa imagem é feita à medida do ego, que identifica algo que o transcende, o contrasta e limita: o não-eu, que mais não é que tudo aquilo com que o indivíduo não se identifica e que ele agrega, de forma melhor ou pior concertada, sob um só conceito. E assim o indivíduo identifica uma realidade exterior a si, normalmente considerada mais ou menos neutra: o mundo.
Mas também podem sentir sentimentos de perseguição e azar ou de proteção e sorte em relação à realidade, que alimentam paranóia, complexos de inferioridade, arrogância e complexos de superioridade, entre outras coisas.
Assim o nosso pensamento e a própria linguagem têm também efeitos práticos, servindo para prever, solucionar problemas, agir, influenciar.
O movimento filosófico do existencialismo desde Søren Kierkegaard, passando por Jean Paul Sartre e Albert Camus, expressou as inquietações do espírito humano sobre a sua existência imersa no mundo. O temor do momento da escolha individual em face do desconhecido, a aparente finalidade da morte, a incompreensibilidade da realidade e a dificuldade em encontrar um sentido intrínseco à existência, por exemplo.
O ser humano é acossado por dúvidas que minam o seu próprio pensamento, e que ameaçam até a sua saúde psicológica e a sua sanidade, condicionando-o, por exemplo, ao niilismo (nas suas diferentes formas) e à decadência.
Para se proteger na percepção destas realidades difíceis de suportar, o ser humano emprega mecanismos de defesa, de acordo com o filósofo norueguês Peter Wessell Zapffe. Nomeadamente faz uso dos mecanismos de isolamento - procurando reprimir o pensamento destas realidades -, de apego - abraçando coisas na vida que oferecem a ilusão da segurança -, de diversão - nos distraindo da realidade pela ofuscação - e de sublimação - usando a capacidade de eufemizar, tornando leves verdades pesadas.
E segundo a neurociência, o ser humano também tem uma predisposição a acreditar na informação que recebe, por vezes independentemente da sua veracidade, e a seguir outras formas de comportamento mais simples e menos exigentes. Pôr em causa criticamente a informação que se recebe exige um esforço suplementar, que requer maior atividade cerebral e maiores recursos mentais, que existem em quantidade limitada no ser humano. Esta tendência natural à credulidade e sugestibilidade embora mais pronunciada na infância, permanece durante toda a vida.
E na experiência disto tudo, o ser humano, durante a sua vida, vive intimamente a tensão entre a sua procura por aceitação social e a sua procura por autenticidade. E com o medo de não ser aceite como é, muitas vezes sacrifica a sua autenticidade pela esperança de aceitação social, segundo o médico Gabor Matè. Experimentando o medo de não ser aceite e sentindo a pressão social, o indivíduo escolhe suprimir a sua forma particular de ser para satisfazer a sociedade e se integrar. E a incapacidade significativa do ser humano conseguir se expressar autenticamente leva progressivamente a problemas psicológicos e mesmo a doenças somáticas, cujo esforço na procura da expressão autêntica de quem se é, segundo o médico Gabor Matè, ajuda a curar.
E apesar disto há a capacidade de permanecer otimista. À capacidade de permanecer otimista perante experiências desconfortáveis como a dor, a culpa e a morte, a que o psiquiatra austríaco Viktor Frankl chamou de otimismo trágico. Na dor será possível encontrar realização pessoal, na culpa existirá a possibilidade de aprimoramento, e na morte a oportunidade de reconhecer a transitoriedade da vida e utilizá-la como catalisador para decisões responsáveis.
Viktor Frankl baseando-se na sua identificação com a filosofia existencialista e apoiando-se nas suas vivências trágicas, que incluíram o encarceramento em campos de concentração nazis, reconhecia no ser humano uma profunda necessidade por significado pessoal. Uma busca por significado e um desejo de, agindo de acordo, o cumprir, de forma a se realizar e ser feliz.
Frankl salientou no entanto que o sofrimento não é necessário para descobrir o sentido de vida, e que só se configura como necessário quando é inevitável.
Por sua vez o filósofo Arthur Schopenhauer via o ser humano escravizado pelo desejo. Vítima de um desejar contínuo ou, na sua contrariedade, a experiência do aborrecimento e da dor. Ele via neste mundo apenas desejo insatisfeito, vontade não realizada, aborrecimento e dor.
Karl Jaspers, que começou como psiquiatra, tendo depois se dedicado à psicologia e eventualmente à filosofia, delineou três fases essenciais da existência humana: orientação, existência e transcendência metafísica. Onde a consciência humana começa por levantar questões subjetivas e existenciais sobre si própria - por exemplo "Quem sou eu?" - e sobre a base do seu pensamento, que não consegue responder a este nível, e encontra conflitos internos que a urgem a refletir existencialmente sobre si própria e a evoluir para o nível de autorreflexão existencial. No nível de introspecção existencial, então, o ser humano levanta questões metafísicas sobre si próprio e a sua origem, que não pode começar a responder sem a consciência que a existência é, a um nível fundamental, transcendente, e que a verdade é metafísica.
O psiquiatra e filósofo Iain McGilchrist aborda isto ao escrever:
Perante a teoria mecanicista da realidade, decorrente de René Descartes, de que a essência da matéria é extensão, e assim a matéria é basicamente formas geométricas tornadas concretas, que têm uma forma e um tamanho e que estão em movimento, Gottfried Wilhelm Leibniz contrapunha que desta forma na sua natureza não há uma origem para a sua atividade.
Jaspers via na existência humana a experiência de uma fé em algo maior que nos sentimos compelidos a acreditar. E na procura de transcendência, associada a essa experiência, há um movimento em direção a uma unidade e uma estabilidade maiores, que aparentemente nunca cessa.
O psicólogo e filósofo William James afirma sobre isto que:
Frankl via no homem a necessidade de uma tensão interior, gerada pela diferença entre aquilo que a pessoa é e aquilo que deveria ser, numa intensidade moderada. Vendo-a como algo imprescindível para a saúde mental, para que o ser humano consiga se tornar aquilo que ele pode ser.
E quando privado desta tensão, o ser humano encontrará uma maneira de criá-la:
Abraham Harold Maslow, famoso psicólogo, criador da pirâmide da hierarquia das necessidades humanas, supostamente identificou mais tarde na sua carreira um estado para lá do topo da atualização pessoal no seu diagrama, que chamou de autotranscendência. A sua inspiração veio de pessoas como a Madre Teresa de Calcutá, que observava que, no seu comportamento, transcendiam o egocentrismo dos padrões de pensamento quotidianos, e se colocavam para lá da noção do ego individual. Pessoas que tinham atingido o estado de atualização pessoal e que tinham o desejo aparente de se identificar com algo maior que o ego individual, onde as necessidades do indivíduo são subordinadas de forma significativa ao serviço aos outros.
Segundo Jaspers, o estado de procura incessante (espiritual) é como nos relacionamos simbolicamente com o transcendente abstrato, que é comunicado ao indivíduo através de símbolos. No mundo nós podemos identificar vestígios ou símbolos do transcendente: na arte, na religião, na natureza, na filosofia, nas nossas vidas quotidianas. Até quando reconhecemos algo novo como verdadeiro para nós, e experimentamos felicidade.
O filósofo e escritor americano David Bentley Hart observou que:
Para o filósofo do idealismo germânico Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, a arte tinha necessariamente de invocar o transcendente, ilustrando o que não pode ser dito, ou não pode ser classificada como arte.
E como não surge à mente uma imagem concreta da transcendência, ela não pode se materializar diretamente na existência. A transcendência tem de ser intuída e decifrada com base em símbolos através da subjetividade pessoal, segundo Jaspers.
Este processo de descodificação ajuda a ilustrar a incerteza e a inquietação da existência e a sua natureza dinâmica e transitória: traz a transcendência à mente, mas não de uma forma em que a transcendência, Deus ou a simbologia destes sejam de todo compreendidos. Assim, pensamos a transcendência, Deus e a própria existência por intermédio de símbolos, se a consciência está receptiva.
Iain McGilchrist sobre isto afirma que:
Assim nós somos seres - também como Kierkegaard afirmava - que procuram transcender os seus limites, pelas situações que escolhemos ou somos forçados a enfrentar e as opções que se apresentam ao nosso entendimento, imersos numa realidade fluída, transiente e ininteligível, que tem de ser interpretada. Imersos num ambiente educativo apelidado de "perverso", onde os estímulos recebidos não são necessariamente fidedignos e as regras (do mundo, da sociedade) não são imutáveis, nem necessariamente rígidas, com uma aplicação relativa. Em contraste com os ambientes educativos "doces" onde os estímulos são fidedignos e as regras fixas, como num jogo de xadrez.
E perante a realidade quotidiana devemos decidir sobre nós próprios, concluir por nós próprios, e fazê-lo sem qualquer certeza ou apoio exterior, ou conhecimento objetivo total. Isto para viver autenticamente. Ou deixamos que o curso dos eventos decida sobre nós, nos omitindo e desaparecendo no avançar da história coletiva. Ou, pelo contrário, lidamos com os eventos nós próprios, assumindo a responsabilidade e tomando decisões próprias, e aceitando e abraçando as consequências, e aprendendo com elas.
E assim, mais que tempo, o momento presente, o que realmente temos, como seres humanos, é a possibilidade - e a realidade - de ser, em cada momento, aquilo que queremos ser, e com isto nos definirmos como seres. Onde toda a realidade se conjuga para nos dar essa oportunidade. E assim a verdadeira capacidade, no ser humano, é a de escolher, mediante o possível da situação, como proceder. E é aqui que pode ser encontrada a real virtude no ser humano. No entanto a percepção correta do comportamento, e do seu valor, normalmente já é impossível até ao próprio.
Viktor Frankl atribuía total importância à procura de significado e ao próprio significado, advindos da ação individual. Para ele, o significado íntimo dependia da ação própria no sentido de participar na realidade, na beleza dela, procurando encontrar e cumprir um significado pessoal, perante uma diversidade, uma riqueza de possibilidades de como a abordar.
Como diz a sabedoria popular portuguesa:
Nas palavras de Frankl:
Com a incapacidade de encontrar sentido e significado na sua vida, o ser humano, segundo Frankl, experimenta frustração existencial. Esta frustração pode ser agravada pela falta da receptividade do meio social às interrogações do indivíduo.
As sociedades ocidentais de uma forma mais ou menos premeditada e explícita procuram dar um sentido de vida aos seus cidadãos. Objetivos como a procura por prazer, por felicidade, a procura por satisfação de desejos e impulsos - que a mesma sociedade alimenta e incentiva a criar -, viajar, ter carro, namorar, casar, ter filhos, ter um segundo e terceiro carros, uma segunda habitação, uma terceira habitação. E o pensamento dominante contemporâneo não dá qualquer crédito à ideia de um sentido de vida transcendental. De facto, em geral é argumentado que a vida não tem sentido nem significado. E isto tudo, de acordo com Frankl, conduz a um vazio existencial, e a um materialismo exacerbado. Isto por não oferecer um sentido verdadeiramente válido para o indivíduo e por propôr - herança de algumas vertentes do Existencialismo - que o único significado que a vida tem é aquele que o próprio indivíduo cria.
Este mal estar é agravado pela noção de pandeterminismo, que afirma o ser humano como um ente condicionado e determinado. Em outras palavras, como alguém sem liberdade para agir: uma vítima da realidade.
Frankl atribuiu esta situação e a propagação do vazio existencial nas sociedades ocidentais a duas perdas que a humanidade sofreu ao longo de sua história:
E este vazio existencial, decorrente da falta de um sentido de vida pessoal, leva a um ser humano que não sabe verdadeiramente o que quer. E nessa carência e confusão, ele pode submergir seu querer e vontade fazendo o que os outros fazem, o que resulta no conformismo, ou fazendo aquilo que os outros exigem dele, entregando-se a um totalitarismo ideológico social.
Isto significa que, em decorrência do sentimento de falta de sentido pessoal, o homem tende a perder sua autonomia individual, entregando-se a fenómenos coletivos que procuram recriar esse sentido e dar significado à sua vida.
Atualmente nas sociedades ocidentais, a vida da maioria dos cidadãos está fundamentalmente determinada por uma lógica e necessidade empresarial. Que ordena a vida da maioria dos cidadãos e lhes dá um propósito dentro da máquina industrial. Mas ainda assim muita gente reporta não encontrar sentido no seu trabalho, limitando-se a trabalhar para viver.
E na ordem mundial atual, o capitalismo tornou-se mais do que um sistema económico e financeiro. Comumente assiste-se à conflação errónea do capitalismo com a natureza humana, com base nos traços comportamentais da ganância, do egoísmo e da competitividade, que tornam este sistema económico no que se crê ser a expressão natural do ser humano. E com isto abolimos os seus limites lógicos, de sistema económico, levando a uma invasão progressiva de todas as áreas da vida humana de uma ótica capitalista, de negócio.
Isto é especialmente fácil de identificar no conceito da "marca pessoal", na qual uma pessoa se converte numa espécie de marca empresarial, subordinando toda a sua vida à lógica do mercado. Como acontece com certos youtubers, estrelas de Instagram, etc.
Esta tendência é associada a problemas psicológicos como solidão, baixa autoestima, exaustão e depressão.
Mas não só vedetas das redes sociais se tornam vítimas desta ideologia, mas toda a população exposta ao capitalismo, que progressivamente tem passado a pensar de uma forma mais desapaixonada, economicista e individualista, preterindo valores humanos como a compaixão, a misericórdia, a reciprocidade, a amizade e mesmo o amor. Os seres humanos cada vez mais pensam exclusivamente em termos de "O que há nesta situação para mim?" e "Porque investir em algo que não me dá dinheiro?", arrefecendo os seus corações e as suas relações, tornando-se profundamente cínicos e egoístas, e com isto se isolando dos outros.
Também o ser humano, na experiência do seu próprio vazio existencial, pode procurar recriar esse significado e sentido pessoais através da procura de poder - como Nietzsche descreveu - ou se submergindo num hedonismo impulsivo e total.
Entretanto, como o prazer deveria ser um resultado, a pessoa perde de vista toda e qualquer razão para senti-lo, todo e qualquer fundamento para ser feliz. Como resultado, acaba caindo no exagero e no desequilíbrio, perdendo-se.
O desejo de poder opera de maneira semelhante. Enquanto no desejo de prazer se buscam os resultados de ter um sentido da vida, na procura de poder, buscam-se os meios para alcançá-lo.
O poder é um meio para o sentido da vida, mas quando o homem é incapaz de ou se recusa a ver o sentido, concentrar-se-á em obter o poder.
O desejo de dinheiro é descrita por Frankl como a forma mais primitiva da procura de poder.
Segundo Viktor Frankl:
Outro resultado possível ao lidar com os problemas relacionados com a procura de um sentido para a vida, segundo Viktor Frankl, é a frustração existencial.
A frustração existencial acontece quando as pessoas duvidam do sentido da sua vida ou já perderam as esperanças de encontrá-lo. Isto não constitui por si só uma patologia. No entanto, ela pode ocasionar psicoses, como o vazio existencial.
Já diz a sabedoria popular:
Para a Logoterapia (psicoterapia baseada nas ideias de Viktor Frankl) o vazio existencial é a psicose coletiva atual, e apresenta três sintomas básicos: depressão, agressividade, vício e a excesso de sexualidade.
Isto tem conduzido as sociedades ocidentais a um materialismo, consumismo e hedonismo exacerbados, e a um ressurgimento do ímpeto nacionalista suportados por uma visão redutora da vida, caracterizada pelo exaltamento do egoísmo e do egocentrismo, pela perda de valores morais, pelo declínio de padrões éticos. Isto tudo condiciona o conflito interpessoal e a falência e dissolução da sociedade e da própria civilização, levando a uma sociedade decadente, progressivamente sem moral, submergida numa visão absolutamente materialista e egoísta da vida - virada para o eu -, ativamente destruindo as relações humanas e deixando os seres humanos sós e isolados, atomizados.
Frankl apontava em suas obras para um processo emergente de adoecimento espiritual da sociedade, para uma psicose crescente da humanidade.
Nisto também deve ser reconhecida a influência dos meios de comunicação, da publicidade, da propaganda e da indústria de relações públicas no condicionamento e na manipulação ao longo da história do comportamento dos seres humanos, individualmente e das populações, à guerra, à agressividade, à competição, ao conformismo, ao isolamento, ao totalitarismo, não necessariamente de acordo com os interesses reais destes. Muitas vezes vendendo os seus serviços de forma mercenária a quem os pode pagar e trabalhando para fins antiéticos e imorais.
Com isto a comunicação social, a política e a indústria do entretenimento usam o poder das ideias para manipular as populações.
E nisto há uma muito célebre experiência chamada de Universo 25, do psicólogo e etólogo americano John Bumpass Calhoun, que procurou criar uma utopia para ratos, que eventualmente colapsou por excesso de população, de socialização e de competição, declinando assim como os seus habitantes, até morrerem quase todos os ratos.
Esta experiência muito interessante por várias razões, incluindo implicações para as sociedades humanas, apresentou uma ideia muito importante: a existência de um limite para a sociabilidade, a partir do qual o comportamento animal, em especial o social, começa a colapsar, levando a uma degeneração comportamental do animal.
Atualmente vivemos, na sociedade ocidental, um ambiente de contínua sobrestimulação e de pressão social extrema que contribui para um sentimento de depressão e degeneração do comportamento humano, pela pressão a excedermos os nossos limites de sociabilização.
Fyodor Dostoevski, escritor russo do século XIX, afirmou:
Por outro lado, para os primeiros filósofos na Grécia antiga e para os filósofos do Idealismo Germânico, o indivíduo é um microcosmos da realidade exterior que o inclui. Para os antigos gregos, a realidade exterior da cidade-estado e do cosmos físico, e para os idealistas, da ordenação do mundo das ideias, refletido na cultura, arte, religião, filosofia.
De acordo com a Logoterapia, o homem é um ser que goza de liberdade e de responsabilidade.
A liberdade do ser humano é condicionada, pelas forças não compreendidas e não dominadas do seu subconsciente, pelos seus impulsos, pelas suas emoções, experiências e conjuntura social, pelo menos. E essa liberdade à priori também não é irrestrita, mas limitada. Não é possível ao homem fazer tudo o que quer. Ele tem limitações na sua capacidade.
O ser humano é livre na medida em que é capaz de se impôr acima dos condicionamentos biológicos, hereditários, ambientais, instintivos. Desde que o homem possa e queira exercer sua liberdade, não será dominado por eles. Há, no entanto, aspectos psicológicos que são as bases da identidade do indivíduo, e tentar mudá-los, ou mudá-los, muda o indivíduo.
Trata-se, portanto, da liberdade de vivenciar seus valores e de tomar uma posição em face dos seus condicionamentos e determinações.
Esta liberdade de que o ser humano dispõe para fazer suas escolhas é expressa pelo conceito de liberdade de vontade.
É justamente por conta dessa liberdade, que não pode ser tirada do ser humano, que pode, até seu último suspiro, configurar sua vida de modo a que tenha sentido, de acordo com as possibilidades que se lhe apresentam.
A liberdade de vontade está diretamente relacionada com a responsabilidade.
Na liberdade de escolher é que o homem pode ser responsabilizado por suas decisões, pelas condutas que adota na sua vida.
Em outras palavras, a liberdade torna o homem responsável pelas respostas que oferece ao mundo.
Para Frankl, quando a liberdade não é vivida com responsabilidade, corre o risco de degenerar-se em arbitrariedade. Assim como destroí a psicologicamente a pessoa.
E nisto, a ideia clássica de perfeição de ser, de um ser humano que nunca erra, é uma impossibilidade. Porque a realidade muda constantemente e por vezes de forma radical. E isso é impossível de acompanhar. Assim a perfeição que pode existe, ao nível do comportamento, é a de ser receptivo à realidade e flexível psicologicamente para mudar em função dela, procurando a acompanhar. Ainda que, por vezes, este movimento de crescimento, de adaptação, leve a resultados que consideramos tudo menos perfeitos. A perfeição que consideramos normalmente é uma perfeição de resultados, que depende de toda uma conjuntura que nos ultrapassa e é imprevisível e inintelegível na sua globalidade.
E embora vivamos num contexto de competição, por recursos - que em geral existem atualmente em maior abundância que o necessário -, devemos ter uma atitude de brincadeira, leveza, lealdade, desportivismo, compreensão e misericórdia, porque a existência - embora nós a vejamos em geral de um ponto de vista particular, nosso, atribuindo especial importância à nossa própria vida - é primeiramente um fenómeno coletivo, social, onde a Natureza subsiste e progride pelo destino das gerações das suas criações transitórias e finitas. Numa infinita corrente de vida, da qual somos apenas um elo.
Nesta realidade, nós, como também os outros animais deverão certamente fazer, criamos interpretações de um mundo que nos transcende, e promete sempre o fazer. Fazemo-las para procurar compreender o meio à nossa volta, e até para tentar procurar comunicar com facetas da natureza que identificamos. Criamos codificações, onde algo incompreensível passa a ter uma forma, um significado e sentido racional e objetivo, recriando essas coisas para nós, como falava Jean Paul Sartre. Criando, por exemplo, uma relação pessoal com um Deus oculto. Esta divindade, como a transcendência, permanece velado para nós, mas criando uma relação com esse Deus, uma conceptualização da transcendência se torna tangível para nós. Isto cria uma magia, um entusiasmo pela beleza da existência por nós reconhecida.
Para Jaspers este movimento de transcendência tem de ser direcionado a Deus. Direcioná-lo para o mundo material resulta em fracasso. Permanecer focado no mundo material, fragmentado e imperfeito como ele e nós somos, leva ao falhanço.
Para Frankl, a transcendência de si mesmo, ou autotranscendência, diz respeito ao fato de que o ser humano sempre se dirige para além de si próprio. Na visão do psiquiatra quando o ser humano se concentra em si mesmo, ele se distorce.
E esta autotranscendência tende a acontecer em função do sentido, e não do bem-estar pessoal.
Para se tornar inteiramente ela mesma e se realizar, a pessoa precisa de se dedicar a uma tarefa ou a alguém, sendo a autorrealização um efeito colateral da plenitude de sentido, da transcendência pessoal.
Também para Frankl, a felicidade não pode ser procurada. A procura da felicidade obrigatoriamente faz com que o indivíduo se afaste dela. E assim o ser humano não deve buscar a felicidade, mas sim uma razão para ser feliz.
Essa razão reside precisamente na realização do significado que a pessoa é convocada pela vida a realizar nos acontecimentos do seu dia a dia. O que faz a pessoa feliz, quando é bem sucedida na busca do sentido. Mais do que isso: ela se realiza.
Nos eventos que compõem as nossas vidas e naqueles que observamos na vida dos outros, vemos sucesso e fracasso, vitória e derrota, bom e mau. Estas dualidades correspondem abstratamente ao fortalecimento e à destruição da vida, ao fenómeno que dá vida e ao que tira a vida. O sucesso que nos anima e o fracasso que nos abate.
Para Frankl, a dualidade sucesso/insucesso no plano da vida social está intimamente relacionada com os sentimentos pessoais de desespero e realização. Sendo que o sucesso pode conviver com desespero, e o insucesso social pode coexistir com sentimentos de realização pessoal.
Nisto há a capacidade de lidar com a realidade e através do uso da imaginação e de perspetiva, reinterpretar e resignificar o evento, transformando algo negativo numa experiência positiva, e algo positivo numa experiência negativa, levando a sentimentos de realização e desespero.
Como disse o poeta John Milton:
O artigo científico “The Self-Simulation Hypothesis Interpretation of Quantum Mechanics", do instituto Quantum Gravity Research de Los Angeles, supõe que a realidade é uma autossimulação que se gera a si própria, e que os seres vivos são sub-ideias, que populam sistemas de ideias (o mundo, o universo), utilizadas para testar possibilidades para a evolução da realidade absoluta. São como hipóteses lançadas para um ambiente seguro, onde podem ser testadas, durante um espaço de tempo.
Schelling defendia que no intimo de cada ser existe uma oposição polar. Comparava-o a um ímã, cujos polos opostos são inseparáveis um do outro, ainda que opostos.
Assim eu considero que o ser humano contém em si uma bipolaridade em relação à sua essência - à hipótese que lhe deu origem -, que representa ao longo da sua vida, sobre as diferentes facetas da sua existência individual. Oscilando sobre polos opostos ideológicos, que podem parecer estranhos e exóticos a quem observa de fora, mas são compreensíveis e familiares a quem os vive. Num fenómeno de dialética hegeliana que caracteriza a sua forma de ser e é demonstrada no seu percurso de vida.
Uma bipolaridade criativa construída sobre a lógica intrínseca à nossa mente, que pode fazer e faz uso na nossa ideia de razão. Esta realidade é explorada pela disciplina humana da psicologia.
E a nossa própria dificuldade em aceitarmos esta contradição em nós e as correntes de pensamento, ideias e comportamentos resultantes, a dificuldade em pugnar pela nossa autenticidade e as nossas frustrações não resolvidas alimentam aquilo que Carl Jung chamava de "lado sombra". Um polo do nosso eu que existe em direta oposição à nossa forma de ser consciente e reprimida, e que influencia o nosso comportamento e até o dita segundo a nossa vontade ou com as circunstâncias.
E o ser humano usa, como já mencionado, ferramentas como a repressão, o recalcamento, a ofuscação, e o forcing de ideias para manipular o conteúdo da sua consciência e manter ideias indesejáveis inconscientes. Estas geralmente se manifestam mais nitidamente em períodos de menor consciência, como nos sonhos ou quando a pessoa está embriagada ou sonolenta.
Esta especificidade do ser humano se manifesta geralmente em problemas existenciais. Na experiência de situações que nos insatisfazem profundamente, e até nos alarmam, e que estão em oposição à nossa própria vontade consciente, que no entanto, na sua fraqueza, frequentemente sucumbe ao que acredita que não quer.
A psicóloga Jane Loevinger propôs em 1976 uma escala de desenvolvimento do ego, na qual é teorizado o ego maturar e evoluir progressivamente através de diferentes níveis ao longo da vida, como o resultado da interação dinâmica entre o eu e o ambiente exterior.
Este sistema de classificação do ego dá ênfase ao desenvolvimento moral, mas aplica uma perspectiva mais abrangente, e tem por base estudos empíricos.
Loevinger descreve o ego como um processo, em vez de como um objeto. É a estrutura de referência (a lente) que o indivíduo usa para interpretar o mundo e agir. Contém o controlo de impulsos e o desenvolvimento da personalidade, com a forma de relação interpessoal e preocupações cognitivas, incluindo a consideração de si próprio.
O modelo de Loevinger esboça uma sequência de nove estados, com cada um deles apresentando uma perspectiva progressivamente mais complexa do indivíduo se ver a si próprio em relação ao mundo. Cada estado proporciona uma forma de referência para organizar e definir experiências ao longo da vida do indivíduo:
No desenvolvimento do ego adulto, Loevinger considerava a emergência de um sentido de consciência pessoal no qual o indivíduo se torna consciente das discrepâncias entre as convenções e o comportamento próprio. Para alguns, o desenvolvimento atinge um platô e não continua; para outros, maior integração e diferenciação do ego tem lugar. Seis dos estados no desenvolvimento do ego ocorrem na idade adulta: conformista, autoconsciente, consciencioso, individualista, autónomo e integrado. Loevinger acreditava que a maioria dos adultos estavam no nível autoconsciente.
Com a aceitação da escala do desenvolvimento do ego de Loevinger por investigadores internacionais do desenvolvimento humano surgiu a concepção de um décimo estado de desenvolvimento - identificado pelo termo "Fluindo", que eu adicionei em baixo.
Eu apliquei ligeiras alterações aos estados originais de Loevinger, nomeadamente ao pré-social e ao impulsivo, pois, segundo desenvolvimentos recentes da investigação científica, do estado impulsivo adiante também deverá estar incluída a experiência de impulsos altruístas e programações pró-sociais, como o choro quando ouve outras crianças a chorar ou a tentativa de ajudar adultos quando identificada essa necessidade pela criança, e - ao acreditar me lembrar do meu processo de nascimento e do meu comportamento nele e devido a experiências que apontam à existência de uma lógica interna natural ao bebé aos 19 meses, que antecede a aprendizagem da fala - eu acredito que o estado pré-social termina antes do nascimento do bebé.
Investigadores da Universidade de Pompeu Fabra, Barcelona, Espanha, concluíram, baseado em dois estudos, que bebés com 19 meses revelam indícios conclusivos do uso de uma lógica interna natural, antes de aprenderem a falar, para lidar com incertezas sobre a sua experiência. Esta lógica natural ajuda na aprendizagem da linguagem e em outras áreas do conhecimento.
A escala de desenvolvimento do ego de Jane Loevinger adaptada apresenta assim os estados:
E esta experiência tem fim? A existência tem fim?
Existe a hipótese real, que precisa de ser considerada, de que a morte física é o final da existência, nos decompondo, com ela, em elementos básicos da Natureza, assim como a concepção intrauterina será, então, a nossa origem, em uma realidade sem um sentido profundo.
Para lá dessa hipótese, os filósofos Arthur Schopenhauer e Eduard von Hartmann conceberam, até pela proximidade das suas sensibilidades, duas hipóteses para o fim da existência, que embora semelhantes, se revelam diametralmente opostas.
Schopenhauer via no ascetismo, através da negação da vontade, negando os seus desejos e negando perseguir as seduções do mundo, a forma de atingir a paz. Negação do sexo, e outros desejos, assumindo uma indiferença perante tudo: a renúncia deste mundo em favor do nada. Isto à imagem de crentes e santos cristãos, e seguidores de outras religiões, como hindus e budistas. A abolição da vontade que resulta em um ser vazio. Em nada.
É comprovado empiricamente que o ser humano quando começa a ter uma vida menos ativa (por exemplo, com um período de férias) começa a degenerar. A mente perde objetividade, o corpo perde resistência, musculatura, capacidade, o humor é afetado adversamente por isto. O ser experimenta um declínio de capacidades. Normalmente se experimenta um nervosismo miudinho e inquietação, acompanhado pelo vulgar pensamento de que "não consigo estar parado". Muitas vezes conota-se essa pessoa com a "preguiça", e até se comenta socialmente que "se está a deixar ir" quando essa inatividade se prolonga. Tudo apontando para uma perda de qualidades desse mesmo indivíduo. Como se estivesse lentamente a se decompor.
Também existe o ditado popular que expressa um sentimento semelhante:
O provérbio "cabeça vazia, oficina do diabo" é muito utilizado para se referir à falta de ocupação resultando em maus pensamentos e suas consequências, além de valorizar a ocupação, o preenchimento do ócio. Reflete uma visão de mundo em que o ócio é visto como ameaçador da moral. Dessa forma, o ócio desorganizador, que traz a delinquência, a loucura, deve ser preenchido pela ocupação organizadora.
Ao tempo livre associado ao ócio é associado valores negativos através dos tempos. Incorporou ao longo da história o valor maléfico, promotor do enfraquecimento.
Também existe a ideia que quando uma pessoa chega à reforma e não tem nada que queira fazer com ela, tende a morrer rapidamente.
O ser humano é um ser que prospera em fluxo, com sonhos, objetivos e trabalhando para eles. Sem isto, se entrega à inatividade, se abate e esmorece.
Com isto não quero dizer que quem morre, pelo em parte, devido à inatividade deixa de existir, pois eu acredito na existência de uma consciência para lá do corpo (a alma). Seguindo esta lógica, onde a vontade do indivíduo é decisiva na sua existência, só perdendo totalmente o desejo de seguir existindo, se perderá a existência individual.
Eduard von Hartmann, por outro lado, acreditava que a felicidade do indivíduo não era possível de obter, aqui ou no futuro. Ele difere de Schopenhauer em fazer a salvação pela negação da vontade de viver depender de um esforço social coletivo, e não em ascetismo individual. Nós devemos, de forma provisional, afirmar a vida e nos devotarmos à evolução social, em vez de perseguirmos uma felicidade que é impossível.
A moralidade em Hartmann assenta no entendimento de que tudo é, em última instância, uno e que, apesar de todos os esforços para conquistar a felicidade serem ilusórios, ainda assim antes da libertação ser possível, todas as formas da ilusão devem aparecer e ser tentadas ao máximo. Até aquele que reconhece a vacuidade da vida, melhor serve os desígnios mais elevados dando-se a si próprio à ilusão, e vivendo com tanta intensidade como se acreditasse que a vida é boa. Isto porque é só através da tentativa constante de ganhar a felicidade que as pessoas podem aprender a atração do nada. E quando este conhecimento se tornar universal, ou pelo menos generalizado, a salvação virá e o mundo deixará de existir. Harmann advoca as diferentes formas como os seres humanos esperam encontrar a felicidade e foram levados inconscientemente a trabalhar para o objetivo final, de desejar a inexistência. Tudo promessas vãs, e reconhecidas como tal no estado final, que vê todo o desejo humano como igualmente vão e o único bem na paz do nada.
Em largo acordo com Hartmann, eu vejo um fim à existência do indivíduo pela exaustão da sua capacidade de desejar. Abstratamente pela exaustão das possibilidades de evolução associadas à hipótese formulada que originou a nossa existência individual, que a conduz à sua conclusão e término. E quando coletivamente todos - ou a maioria - dos seres individuais não desejarem realmente existir e não existir uma vontade absoluta suficiente para existir coletivamente, dando-se um esgotamento das possibilidades da existência, a existência coletiva colapsar-se-á no Nada, e o Absoluto repousará temporariamente, até a entropia levar a uma nova criação, diferente, mais evoluída, e o ciclo repetir-se-á outra vez.
Com as experiências, um ser individual evolui, mesmo que não as aproveite para refletir e mudar o seu comportamento. A experiência em si produz uma transformação no sujeito, que se expressa energética, biológica e comportamentalmente. O mesmo acredito que se passe com o Absoluto.
Mas como Schopenhauer defendia, e o budismo defende, podemos tentar "atalhar" o caminho para a inexistência ao procurar negar conscientemente o desejo. Mas será uma batalha muito difícil contra os nossos impulsos à existência e realização pessoais.
Existe uma condição medicamente reconhecida chamada de morte psicogénica, que é descrita como ocorrendo quando a pessoa desiste de viver.
Disto a sabedoria popular também parece ter conhecimento, ao afirmar:
O ser humano já normalmente, de forma subconsciente, oscila entre a negação pessoal e a autorrealização, pela adoção de condutas autodestrutivas, que conduzem à involução, e de condutas saudáveis e afirmadoras da vida, que levam à evolução. E também pela estagnação, que, por entropia, conduz à involução. Sendo que isto é respectivamente o verdadeiro mal e o verdadeiro bem, o negativo e o positivo, em termos existenciais. Porque como Friedrich Nietzsche afirmava, todo o ser tem o desejo de poder e afirmação pessoal, e a sua negação conduz à frustração dessa hipótese.
Com a evolução no sentido positivo ou negativo, a capacidade de pensar a ação pessoal vai-se especializando, e estreitando o seu potencial na área da dinâmica do egoísmo-altruísmo. Quando o ser está a progredir nos quadrantes positivos, abandona ideias mais extremas altruístas e egoístas, e quando progride nos quadrantes negativos abandona também ideias extremas. Quando o ser estagna num estado aproximadamente neutro, e mais instável, experimenta todo o tipo de ideias e persuasões, numa maior liberdade de conceber a sua própria ação. Isto em função dos temas discutidos, fortemente influenciados pelo estado do indivíduo na oposição positivo-negativo (eixo vertical).
Há no entanto uma maior atração ao pólo negativo no ser humano. Pois é mais fácil destruir, que construir. Evoluir positivamente de forma continuada exige predisposição a fazê-lo, esforço e fortaleza mental. Assim como também há uma forma atração no ser humano, especialmente atualmente, pelo fácil e confortável da estagnação, da omissão, da fusão com a massa popular.
A sabedoria popular alude a isto com:
De salientar que no absoluto extremo de egoísmo ou altruismo (eixo horizontal), como nos extremos positivo e negativo (eixo vertical), a existência finda, porque na incapacidade de conceber a polaridade oposta, termina a dialéctica hegeliana que sustenta a existência permitindo-lhe evoluir pelo conflito entre extremos. A possibilidade de crescer desaparece e com ela cessa a existência individual.
Egoísmo aqui é entendido como ação focada no benefício próprio e altruísmo como ação focada no bem dos outros.
Embora o verdadeiro altruísmo, para mim, inclui o pensar no benefício próprio também, mas na relação com o benefício dos outros, procurando maximizar o bem estar comum. Isto porque é impossível exercer uma ação prolongada em favor de alguém ou algo se nos descuramos a nós próprios.
Estados emocionais, experiências, interpretações e condutas positivas favorecem a evolução positiva e maturação, e vivências negativas condicionam à involução e autodestruição. Onde o ser humano é naturalmente atraído pelas duas polaridades (positiva e negativa), e experimenta por isto, especialmente em determinados momentos, a beleza e o peso de viver.
Sendo que não devemos associar uma conduta saudável e afirmadora da vida com a rejeição da morte. O sacrifício por outro, ou outros, ou um ideal, pode ser um acto afirmador da vida, e que conduz à criação de significado pessoal e crescimento, para além daqueles que tem a possibilidade de fazer o mesmo e o rejeitam. Mas também a vida não deve ser desperdiçada.
E seguindo maioritariamente um caminho de involução pessoal - de decadência - o indivíduo caminha para a sua autodestruição, não só física, mas também psicológica, incluindo espiritual, que deverá encontrar o seu fim com a destruição total de si próprio.
De referir também que os seres humanos, pelo menos, têm uma atração natural pela auto-aniquililação e pela morte, e pela integração na Natureza. Muitas vezes referenciada no chamado "peso de viver".
Os antigos gregos tinham o conceito de "henosis", que descrevia a união do indivíduo com o Uno, a Fonte ou a Mónada (o Absoluto). Em imitar o Ser Absoluto, um une-se com o Absoluto, culminando na fusão.
Arthur Schopenhauer considerava que a fusão do indivíduo com o Absoluto proporcionava uma solução ao problema da normal subordinação a um desejar contínuo.
Eu acredito que na incapacidade de um ser evoluir para integrar positivamente o Absoluto, eventualmente, de forma voluntária, o ser se entrega a um processo de autodestruição total e final, cujo resíduo resultante é absorvido pelo Absoluto.
E o sentido da vida?
Um popular sentido à vida é a reprodução. Ter filhos. Mas apenas conduz à sublimação do indivíduo de forma patológica na vida dos filhos. Procurando viver através dos filhos. E que, numa realidade que escapa largamente ao entendimento e controlo dos pais, leva à rebeldia e a uma perpetuação de forma inconsciente da família genética. Semelhante a todos os outros seres vivos, que se procuram reproduzir o máximo possível e proteger a sua herança genética.
Mas pessoalmente, ainda que como uma pessoa sem filhos nem grande desejo de os ter, vejo a reprodução misturada com um hedonismo exacerbado como uma forma vazia de viver. Que não preenche o ser humano.
Eu acredito que o sentido da vida humana, e não humana, divide-se em duas facetas:
Quando falo em fazer um legado, inclui-se a reprodução, mas pode não se restringir a esse caso, ou até o nem incluir, podendo ser também de cultura, de conhecimento, de forma de ser, de bondade. Um exemplo.
Viktor Frankl associava a estes comportamentos a realização de significado. Através deles o ser humano encontra significado na sua vida e se realiza.
Frankl, provavelmente devido em grande parte à sua história de vida particularmente difícil, via que esse significado na vida também podia ser encontrado pelo ser humano em situações extremas, onde ele identifica aquilo que a situação lhe pede, vê um sentido, e o realiza. Frankl acreditava que era possível encontrar um sentido e significado pessoais em qualquer situação.
A nossa sociedade atual assenta no legado de incontáveis civilizações que desapareceram (como os Etruscos), muitas delas até desconhecidas, e o mesmo em relação a pessoas que nos legaram o seu conhecimento (como Stephen Hawkins) e a sua forma de ser (Nelson Mandela e Sophie Scholl). Sophie Scholl quando foi executada pelos Nazis era demasiado nova para ter sido mãe, mas deixou um legado que continua a inspirar a humanidade.
O ser humano é composto de átomos, de eletrões, de protões, e a forma de ser da pessoa afeta o seu corpo e os ambientes em que vive, e as pessoas com as quais entra em contacto, e é legada. Que seja um bom legado.
Sobre a reprodução, eu acredito que um filho deve vir ao mundo, não por acidente, pelo desejo fervoroso dos pais de ter um filho, ou de governantes de ter mais uma pessoa sobre a qual governarem, mas porque no contexto da vida como se apresenta tem sentido não só para os pais, para a sociedade, para o contexto geral, mas para a criança também. Um mundo no qual há sentido ela o habitar. E da mesma forma, um filho precisa de mais do que dinheiro, precisa de atenção, amor, liberdade e de que os pais defendam o seu futuro, para que ele seja melhor, pelo menos do que seria caso contrário.
Fontes: