Desde que ganhamos consciência no útero materno começamos a viver em direção à morte. Inicialmente de forma inconsciente, mas com o confronto com a ideia da morte, começamos a viver com ela em mente, frequentemente pré-consciente ou inconsciente, mas parte dos nossos conteúdos mentais.
A morte tem uma dimensão pessoal e coletiva. É um fenómeno que é processado individual e coletivamente, e que realça a intransmissibilidade da experiência individual, onde quem experimenta a sua morte vive-a como um fenómeno solitário, mas com uma expressão e vivência que ultrapassam a sua experiência nas circunstâncias que a rodeiam, normalmente tomando, nos tempos atuais, uma dimensão social.
Para Jean Paul Sartre a morte era um trauma irrazoável. Como podia toda a existência se reduzir a nada?!
O ser humano, no seu orgulho excessivo e prepotência, vê-se como separado da natureza. Como um ser à parte. Um deus.
Mas como todo o ser vivo, nasce, cresce, vive a sua maturidade corporal, envelhece e declina, e morre, se tiver um processo normal de vida que vai até à velhice, nas suas próprias circunstâncias.
Mas também como os outros animais pode morrer prematuramente, de forma esperada ou surpreendente.
Sendo que a morte ocorre em circunstâncias únicas, mais rápida ou lentamente, de uma forma ou de outra, mas com o mesmo fim.
A ciência aponta a que, se o ser humano morrer lentamente com o cérebro intacto, alucina o fenómeno da morte. Imagina, processa a morte. Com a atividade cerebral a prolongar-se depois da paragem do coração, durante algum tempo, com a ocorrência de outros processos biológicos no corpo.
Nesta alucinação, o ser conscientemente percorre eventos da sua vida num flashback e vem a aceitar a sua própria morte, fazendo paz com a vida que levou e está para terminar. Digo isto baseado na minha experiência de quase-morte.
Mas se o cérebro estiver incapacitado, por danos sofridos ou intoxicação, não alucina o processo da morte. Não experimenta conscientemente. Segundo relatos de pessoas, sob o efeito de drogas, que experimentaram paragem cardíaca e foram ressuscitadas, foi como se um interruptor se tivesse apagado quando ficaram inconscientes, não havendo memória da experiência.
No desconhecimento do que está para lá da morte e no apego a esta vida e experiência, e talvez com receio da verdade que a morte vela, assim como do processo da sua morte, o ser humano teme a morte e o que está para lá dela.
Mas a Natureza é um fenómeno criativo e diversificado, de formas transitórias a que é dado um tempo limitado para existir, ás quais é programado e condicionado o instinto à reprodução e à sobrevivência, e incluído todo um sistema corporal que gere o seu desenvolvimento, manutenção, declínio biológico e morte.
Num meio natural onde todos os recursos são limitados, para novos seres vivos poderem surgir, prosperar e existir, outras formas mais velhas têm de perecer. Tem de haver uma substituição, com os velhos a dar lugar aos novos. Tem de haver um equilíbrio natural, ou senão os ecossistemas entram em ruptura. Não podemos viver para sempre, nem existir em números ilimitados.
A Natureza evolui por gerações, onde o novo cresce sobre o velho. Novas ideias sobre velhas ideias. Novas relações sob velhos tectos.
E se o velho se recusar a morrer, o novo não pode tomar o seu lugar no ciclo natural, havendo uma perturbação do mesmo e um acréscimo de utilização de recursos.
Mesmo socialmente, quando pessoas idosas se recusam a retirar da vida profissional na velhice, em áreas como a política ou mesmo empresarial, isto causa que as pessoas que lhes sucedem normalmente não tenham uma competência aproximada destes, pois os substituem tarde e muitas vezes não contaram com a ajuda dos seus antecessores no processo, tornando a transição mais complicada.
A mente humana também não acredito que esteja preparada para experimentar tempo infinito. Dias, anos, décadas costumam ser o suficiente para abater o espírito e o preparar para a inevitável morte. Viver cerca de um século agora parece ser perto do máximo a que a vida humana é capaz de se estender. Mas poderá viver para lá disto?
Existir implica processar experiências, pensar e agir. Implica memorizar e lembrar. Implica aprender e mudar. Ganhar novos horizontes, vendo a sua vida se expandir e perder velhos horizontes e ver a sua vida se contrair. Implica aguentar com os choques da vida e ter fôlego e animo para um novo dia. E num mundo em cada vez mais rápida mudança, implica, para a sobrevivência do indivíduo, fazer um esforço para o acompanhar. É um processo extenuante. Que se estendido por mais tempo, mais exigente se tornará física e psicologicamente.
Na existência tudo o que nos é dado ou ganhamos estamos destinados a perder.
Quando a saúde falha, a oportunidade de existir nesta vida concedida pela Natureza está a chegar ao fim. E nesta altura devemos nos preocupar mais em viver com qualidade e de uma forma que nos satisfaça intimamente, do que nos deixarmos apodrecer numa morte lenta, mais dolorosa e sofrida.
Devemos ser humildes e respeitar o ciclo da vida, respeitar aqueles que nos rodeiam e a natureza que nos trouxe à existência, em vez de a tentar deformar a ser o que não é, criando perturbações e desequilíbrios.
E talvez a morte física não seja realmente o fim na nossa individualidade. Mas como seres limitados e transitórios que aparentemente somos, produtos do tempo, em determinado momento devemos morrer, decompor e regressar à Natureza, renunciando à nossa individualidade, para ajudar a criar nova vida, a nova forma do fenómeno que é a Natureza, do qual todos, humanos e não humanos, fazemos parte. O novo estado, a nova evolução da Natureza.
Ainda sobre o tema da morte, eu recomendo a ver o vídeo do filósofo Vlad Vexler em baixo, que explora o tema da morte num contexto de doença crónica e incapacitante, fazendo observações muito interessantes.
Fontes:Desde que ganhamos consciência no útero materno começamos a viver em direção à morte. Inicialmente de forma inconsciente, mas com o confronto com a ideia da morte, começamos a viver com ela em mente, frequentemente pré-consciente ou inconsciente, mas parte dos nossos conteúdos mentais.
A morte tem uma dimensão pessoal e coletiva. É um fenómeno que é processado individual e coletivamente, e que realça a intransmissibilidade da experiência individual, onde quem experimenta a sua morte vive-a como um fenómeno solitário, mas com uma expressão e vivência que ultrapassam a sua experiência nas circunstâncias que a rodeiam, normalmente tomando, nos tempos atuais, uma dimensão social.
Para Jean Paul Sartre a morte era um trauma irrazoável. Como podia toda a existência se reduzir a nada?!
O ser humano, no seu orgulho excessivo e prepotência, vê-se como separado da natureza. Como um ser à parte. Um deus.
Mas como todo o ser vivo, nasce, cresce, vive a sua maturidade corporal, envelhece e declina, e morre, se tiver um processo normal de vida que vai até à velhice, nas suas próprias circunstâncias.
Mas também como os outros animais pode morrer prematuramente, de forma esperada ou surpreendente.
Sendo que a morte ocorre em circunstâncias únicas, mais rápida ou lentamente, de uma forma ou de outra, mas com o mesmo fim.
A ciência aponta a que, se o ser humano morrer lentamente com o cérebro intacto, alucina o fenómeno da morte. Imagina, processa a morte. Com a atividade cerebral a prolongar-se depois da paragem do coração, durante algum tempo, com a ocorrência de outros processos biológicos no corpo.
Nesta alucinação, o ser conscientemente percorre eventos da sua vida num flashback e vem a aceitar a sua própria morte, fazendo paz com a vida que levou e está para terminar. Digo isto baseado na minha experiência de quase-morte.
Mas se o cérebro estiver incapacitado, por danos sofridos ou intoxicação, não alucina o processo da morte. Não experimenta conscientemente. Segundo relatos de pessoas, sob o efeito de drogas, que experimentaram paragem cardíaca e foram ressuscitadas, foi como se um interruptor se tivesse apagado quando ficaram inconscientes, não havendo memória da experiência.
No desconhecimento do que está para lá da morte e no apego a esta vida e experiência, e talvez com receio da verdade que a morte vela, assim como do processo da sua morte, o ser humano teme a morte e o que está para lá dela.
Mas a Natureza é um fenómeno criativo e diversificado, de formas transitórias a que é dado um tempo limitado para existir, ás quais é programado e condicionado o instinto à reprodução e à sobrevivência, e incluído todo um sistema corporal que gere o seu desenvolvimento, manutenção, declínio biológico e morte.
Num meio natural onde todos os recursos são limitados, para novos seres vivos poderem surgir, prosperar e existir, outras formas mais velhas têm de perecer. Tem de haver uma substituição, com os velhos a dar lugar aos novos. Tem de haver um equilíbrio natural, ou senão os ecossistemas entram em ruptura. Não podemos viver para sempre, nem existir em números ilimitados.
A Natureza evolui por gerações, onde o novo cresce sobre o velho. Novas ideias sobre velhas ideias. Novas relações sob velhos tectos.
E se o velho se recusar a morrer, o novo não pode tomar o seu lugar no ciclo natural, havendo uma perturbação do mesmo e um acréscimo de utilização de recursos.
Mesmo socialmente, quando pessoas idosas se recusam a retirar da vida profissional na velhice, em áreas como a política ou mesmo empresarial, isto causa que as pessoas que lhes sucedem normalmente não tenham uma competência aproximada destes, pois os substituem tarde e muitas vezes não contaram com a ajuda dos seus antecessores no processo, tornando a transição mais complicada.
A mente humana também não acredito que esteja preparada para experimentar tempo infinito. Dias, anos, décadas costumam ser o suficiente para abater o espírito e o preparar para a inevitável morte. Viver cerca de um século agora parece ser perto do máximo a que a vida humana é capaz de se estender. Mas poderá viver para lá disto?
Existir implica processar experiências, pensar e agir. Implica memorizar e lembrar. Implica aprender e mudar. Ganhar novos horizontes, vendo a sua vida se expandir e perder velhos horizontes e ver a sua vida se contrair. Implica aguentar com os choques da vida e ter fôlego e animo para um novo dia. E num mundo em cada vez mais rápida mudança, implica, para a sobrevivência do indivíduo, fazer um esforço para o acompanhar. É um processo extenuante. Que se estendido por mais tempo, mais exigente se tornará física e psicologicamente.
Na existência tudo o que nos é dado ou ganhamos estamos destinados a perder.
Quando a saúde falha, a oportunidade de existir nesta vida concedida pela Natureza está a chegar ao fim. E nesta altura devemos nos preocupar mais em viver com qualidade e de uma forma que nos satisfaça intimamente, do que nos deixarmos apodrecer numa morte lenta, mais dolorosa e sofrida.
Devemos ser humildes e respeitar o ciclo da vida, respeitar aqueles que nos rodeiam e a natureza que nos trouxe à existência, em vez de a tentar deformar a ser o que não é, criando perturbações e desequilíbrios.
E talvez a morte física não seja realmente o fim na nossa individualidade. Mas como seres limitados e transitórios que aparentemente somos, produtos do tempo, em determinado momento devemos morrer, decompor e regressar à Natureza, renunciando à nossa individualidade, para ajudar a criar nova vida, a nova forma do fenómeno que é a Natureza, do qual todos, humanos e não humanos, fazemos parte. O novo estado, a nova evolução da Natureza.
Ainda sobre o tema da morte, eu recomendo a ver o vídeo do filósofo Vlad Vexler em baixo, que explora o tema da morte num contexto de doença crónica e incapacitante, fazendo observações muito interessantes.
Fontes: