Realidade

Realidade

Nós vivemos em um mundo que compreendemos pela metade. Vemos uma moeda cair e sabemos - pela Física - que sofre o efeito da gravidade, que a faz cair em direção ao solo. Mas não sabemos como a espuma quântica faz emergir particular quânticas por toda o espaço físico aparentemente ao acaso, provocando resultados com discrepâncias do esperado teoricamente.

Nós identificamos ordem no nosso quotidiano, nas nossas vidas, mas também falhamos em explicar eventos que parecem não obedecer a uma lógica familiar.

Talvez a realidade esteja subordinada na sua essência a uma simetria entre a ordem e a desordem. Como no caso de uma ampulheta de areia quando virada de cima para baixo. A areia começa a se depositar ordenadamente da sua metade previamente vazia. E chega a um momento incerto onde uma pequena avalanche de areia, por incapacidade da pequena base inicial sustentar um crescente número de grãos depositados em cima de si, faz essa base de areia se alargar pela base do vidro da ampulheta, tornando-se capaz de sustentar mais areia sobre si. Tudo isto numa observação em que conseguimos atribuir ordem e desordem a diferentes partes e momentos da experiência.

Georg Hegel acreditava na existência de um Espírito Absoluto criativo que se desdobrava e realizava ao longo da História, na arte, na religião, na filosofia, nos eventos mundiais, através dos seres humanos. Sendo o ser humano um agente do impulso criativo dessa totalidade. Eu concebo que, para lá do homem, todo o ser vivo possa ser um agente criativo e de evolução desse Espírito Absoluto, realizando-se criativa e necessariamente no desenrolar da realidade.

Então seria como afirma a sabedoria popular:

"De hora a hora, Deus melhora."

O matemático e filósofo Alfred North Whitehead, por sua vez, considerava a criatividade como a fonte da realidade. E o fenómeno da criatividade em si como um processo em parte ordenado e intelegível, e por em outra parte instintivo e caótico, que produz um resultado final.

Arthur Schoppenhauer via a realidade como determinada da vontade, comandada pela vontade, subjugada pela vontade.

Talvez o princípio criador da realidade seja criatividade e vontade, a vontade criativa.

Whitehead acreditava também, como Hegel, na evolução desse espírito absoluto, da qual a evolução da natureza, da biologia, da flora seriam demonstrações.

Segundo Martin Heidegger nunca podemos conhecer verdadeiramente ninguém porque cada ser está em transformação. Há uma parte nele que está em mudança, e assim impossível de conhecer. E se a realidade é assim também?

E se a progressão da realidade no passado infinito desconhecido até ao futuro infinito por conhecer for obra de um Ser Absoluto que se está a descobrir criativamente, a conhecer e a transformar? Como Hegel e Whitehead intuíam?

Numa realidade total (o Absoluto) que transcende este espírito absoluto - como o filósofo idealista britânico Francis Herbert Bradley pensava - que procura compreender a realidade e a si próprio?

Para Hegel, no ato de tentar entender melhor o seu próprio ser, a inteligência compreende progressivamente mais o conceito de ser em si. A totalidade.

Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling considerava o ser humano incluído numa realidade inter-relacionada, hierarquizada numa série ascendente de potenciais, apresentando uma dualidade intrínseca, dos seres vivos concretos até à origem abstrata. E também via a arte necessariamente como uma representação de algo para lá do observável. Uma "espreitadela" ao reino incompreensível da própria natureza da realidade.

Nas palavras do escritor russo Anton Chekhov:

"O papel de um artista é levantar questões, não as responder."

E se essa dualidade nos seres humanos estiver relacionada aos princípios de ordem e caos na simetria basilar, e se expressarem no contexto da função dos seres, do seu propósito, dentro da criação divina? Faria sentido, que uma consciência naturalmente orientada à sua realização pessoal, seguindo um anseio de ordem e harmonia, se encontrasse pesada por um polo caótico, que normalmente se expressa na desordem e destruição, na negação dessa função. Assim como faria sentido que esta bipolaridade entre ordem e caos estivesse relacionada com a instabilidade e limitação associada à evolução criativa, ao crescimento existencial do Ser Absoluto em face do Absoluto, que fosse propriedade da base da existência em face da sua própria condição que a transcende, como acontece aos seus produtos.

E estas bipolaridades, assim, interagem entre si num conflito de antíteses, numa dialética entre extremos hegeliana (tese-antítese-síntese), onde a uma ideia (tese) se opõe outra diferente (antítese), procurando a conclusão do conflito em uma síntese que resulta de ambos os aspectos e da dinâmica entre eles.

Onde a realidade evolui não só em termos individuais, mas também coletivamente. Visto a realidade se organizar numa hierarquia. Universo, galáxia, sistema planetário, planeta, espécie, bando, corpo, orgão, célula, átomo, ... E nestas dimensões ocorrer também um fenómeno de dialética hegeliana.

E a isto pode-se adicionar a existência daquilo que se chama a Hipótese do Grande Filtro, onde para uma entidade (por exemplo, uma civilização) prosperar tem de ultrapassar determinados desafios existenciais (por exemplo, sustentabilidade ecológica) na sua evolução. E cuja falha causa a destruição profunda dessa entidade e a sua involução para um estado mais básico.

Bradley também considerava que há um determinado grau de realidade em todas as aparências.

Schelling defendia que os processos fundadores da realidade, que convertem o mundo não vivo para vivo são inconscientes. Estes estados que levam à formação da matéria orgânica, e da consciência e autoconsciência. E o acto da criação, segundo o qual toda a limitação ao criado é imposta, como condição de toda a consciência, não vem em si à consciência do criado.

Schelling também acreditava que a base da realidade só se manifestava através das suas criações, não se manifestando diretamente.

Talvez, como afirma o ditado popular:

"Pelos frutos se conhece a semente."

Para Schelling, estes produtos criados (entre eles o ser humano) são essa base da realidade a se limitar a si mesma, sendo estes sempre incompletos em si próprios. São como ondas num rio, que temporariamente mantêm a sua forma pela resistência ao movimento geral do fluído que as cria, se evidenciando, apesar do mesmo material cambiante - que constitui o resto do rio - fluir nelas e por elas.

Assim o ser humano, como todas as outras criaturas, é uma criatura que se sustenta e prospera no movimento, na mudança, na transição, e que ao abrandar ou parar decai, degenera, vai morrendo.

Já diz a sabedoria popular:

"Parar é morrer."

Albert Einstein também se referiu a isto ao proferir:

"A vida é como andar de bicicleta. Para manteres o teu equilíbrio, tu tens de te manter em movimento."

Isto leva-me à religiosidade particular de cientistas como o próprio Einstein, da qual eu professo também:

"Eu acredito no Deus de Espinoza que se revela a si próprio na harmonia ordenada do que existe, não em um Deus que se preocupa com os destinos e ações dos seres humanos."

Entretanto, uma equipa multidisciplinar de cientistas e filósofos dos Estados Unidos publicou um estudo na Proceedings of the National Academy of Sciences que sugere que a “lei do aumento da informação funcional” prevê que a evolução em todas as suas formas inevitavelmente leva a uma maior padronização, diversidade e complexidade nos sistemas naturais complexos.

A equipa concluiu que uma trajetória assimétrica com base na funcionalidade pode parecer antitética à análise científica, mas conjecturou que a seleção com base na funcionalidade é um processo universal que resulta em sistemas com informação funcional aumentada.

Com base nisto eu acredito que existe uma experiência e uma liberdade de arbítrio tão mais condicionada na consciência, quanto mais se move do Ser Absoluto para o indivíduo. Tendo o ser humano uma vontade condicionada interna e externamente por toda a estrutura que o inclui, mas ainda assim dotado da capacidade de escolher, dentro de sua limitação.

Embora de forma semelhante ao que as religiões orientais defendem, nomeadamente o Budismo com a noção de samsara, os seres humanos sós, com pouca orientação, ignorantes, entregues a si próprios pela natureza e sujeitos aos seus impulsos e caprichos, e sem ameaças à sua supremacia no mundo natural, limitam-se ainda mais na sua própria capacidade, cedendo às suas paixões, medos e seduções, experimentando o frenesim de existir - criando e entregando-se a ilusões temporárias em que gastam a maior parte da sua vida, e às quais se apegam, até pela maior tangibilidade destas à sua sensibilidade, que o resto da realidade que o rodeia e experimentam.

Gottfried Wilhelm Leibniz tinha uma ideia de que era muito apreciador:

"Nada toma lugar subitamente, e é uma das minhas maiores e melhor confirmadas máximas que a natureza nunca dá saltos."

Tudo na natureza ocorre de forma ordeira. Pequenas transformações, a princípio invisíveis, se acumulam e eventualmente torna-se visível a mudança delas composta. Com os fenómenos da natureza a exibirem um princípio, um meio e um fim na sua manifestação.

Da mesma forma acredito que seja a existência individual, até como fenómeno natural que é. Com o começo a ser - acredito eu - com a formação do espírito e o fim com a dissolução dele, com o meio correspondendo à sua existência.

E como os seres vivos são uma espécie de sistemas inteligentes autónomos, a sua morte os levará de volta à natureza, onde podem ser reutilizados, como um programa de computador, na sua totalidade ou apenas em alguns dos seus aspetos na evolução do Absoluto. Como afirma de certa forma o conceito da reincarnação.

Com isto eu acredito no conceito do destino. Não um imutável e pesado, mas um fléxivel e subtil. Uma espécie de prognóstico educado do Absoluto, que se manifesta nas nossas vidas como que por uma atração invisível que nos leva - aos seres vivos - a mover em uma determinada direção. Acredito que seja previsível e linear esta força, embora para nós se manifeste de forma misteriosa, por vezes nos surpreendendo e até chocando, porque ignoramos as causas que nos trouxeram até onde nos trouxeram e nos impelem na direção que nos impelem. Mas que pode ser contrariado, com isto trazendo maior caos e desordem momentaneamente à existência individual e à realidade envolvente, que se manifesta visivelmente em alguma confusão, dor e sofrimento, um transtorno momentâneo, onde a realidade envolvente rapidamente se transforma para se adaptar e comportar a mudança, e proporcionar uma nova realidade, e destino.

Leibniz criou o chamado Princípio do Melhor, em que defendia que a realidade era como era por uma razão, e assim seria a melhor possível. Eu acredito que esta força do destino é a manifestação dessa intenção de forma absoluta. Uma pressão ao melhor desfecho, não para um indivíduo específico, mas para a totalidade da realidade.

Por sua vez, Arthur Schopenhauer acreditava que esta realidade era a pior de todas as possíveis, pela insuportável e opressora força da vontade que nos avassala e nos pressiona de forma imparável, e que não nos dá descanso.

Pessoalmente, eu acredito que esta é a realidade possível. A possível, de entre a melhor intenção e a pior necessidade.

Na problemática do mal - Porque o mal existe? - esta visão da realidade oferece uma resposta lógica. Acaba assim com o conflito entre duas divindades limitadas e opostas (o deus criador e bom e o seu contrário mau e destruidor) - de tantas religiões - considerando Deus limitado, apesar da sua dimensão inintelegível, que se manifesta somente no produto da sua criação. Um deus limitado pela sua própria natureza contigente a uma realidade absoluta, que o ultrapassa e não controla, e também ele a evoluir, com a sua inteligência e poder extraordinários, mas limitados, e assim expressando também uma bondade relativa. Desta forma, como diz na sabedoria popular:

"Deus escreve direito por linhas tortas."

Outro problema relacionado à existência do mal é a questão da justiça. "Onde está a justiça?", muitas vezes nos perguntamos. E pela mesma lógica, uma justiça cega e verdadeiramente justa não serviria a evolução individual e coletiva do Absoluto. Pois se condenarmos forçosamente o assassino, pelo seu acto, a ser assassinado, a todo o evento que ele despoletou sobreviverá apenas a ferida por ele criada. A civilização humana, com a justiça dos tribunais, procura condenar mas também reabilitar à vida coletiva, e, na sua assumida incapacidade para o fazer, afastar o criminoso do resto da sociedade, idealmente. Assim os tribunais procuram realizar uma aproximação da real justiça, ponderada pela sensibilidade. Pois a real justiça não serve os interesses do coletivo. Como defendia Mahatma Gandhi:

"Um olho por um olho, deixará o mundo todo cego."

Um exemplo interessante disto, é a forma como Nelson Mandela procurou conduzir a África do Sul no seu mandato como presidente democraticamente eleito. Um homem que passou a maioria da sua vida como preso político, em vez de procurar retribuir a violência e o racismo com que foi tratado pelos seus captores, e vingar a perda de uma larga parte da sua vida, se esforçou em conciliar todos os sul africanos e criar uma nação homogénea.

Mas ações que pela sua especificidade desafiam a imaginação são impossíveis de avaliar com precisão, positivas ou negativas, resultam numa aproximação grosseira da sua justa recompensa. Crimes como o genocídio de judeus no Holocausto ou a responsabilidade do governo de Margaret Thatcher na disseminação da Encefalopatia espongiforme bovina (doença das vacas loucas) pela população mundial, descontando corrupção e tráfico de influências nos tribunais e na comunidade internacional, são impossíveis de conceber e assim impossível de fazer justiça. Mas também feitos magnânimos, como o trabalho do agrónomo americano Norman Borlaug, que liderou iniciativas pelo mundo fora que contribuíram para aumentos significativos na produção agrícola, e levaram a uma diminuição da fome a nível mundial.

Schopenhauer defendia que a vontade, em si, é o motor da realidade, que é a base de tudo o que existe. E a necessidade, em si, é um fenómeno secundário, superficial. Mas eu defendo que a vontade e a necessidade correspondem à natureza, à essência, da realidade. Pois, empiricamente, a vida humana depende da vontade do ser humano, mas também é determinada pelas suas circunstâncias e pelas ramificações inevitáveis da ação, que em conjunto concretizam - de forma necessária - a realidade da vida humana.

Assim eu acredito que nos devemos abster de aplicar noções de moralidade humana, a uma existência que apesar de ininteligível na sua totalidade, talvez se assuma como marcadamente limitada e familiar. Ou se o queremos fazer, devemos nos olhar ao espelho sinceramente, e deixar de nos refugiarmos na nossa limitação humana como resposta à percepção dos nossos erros, assumindo a totalidade da responsabilidade pelas nossas ações num mundo estranho, que nos ultrapassa. E veremos que isto é incoerente. Devemos sim, por fim, aceitar Deus - se acreditamos na existência de Deus- e nos aceitarmos a nós por inteiro. Com as nossas virtudes e defeitos, limitações e vontades, sem fugas psicológicas.

A existência humana como um reflexo limitado e temporário de uma realidade ilimitada e intemporal, de uma existência absoluta que é primeiramente uma certeza abstrata.

E se este Absoluto fosse o 'Nada', a que os budistas aludem, para a essência da existência humana?

Empiricamente, quando procuramos imaginar "nada" surge sempre algo. Talvez um espaço populado pelo negrume, talvez uma divisão vazia. Mas sempre alguma coisa.

E a própria física aceita que o absolutamente nada não existe.

Talvez a base da realidade seja realmente uma dimensão abstrata viva primordial - um nada -, que é a base sensível de tudo: a natureza em si própria. Que, como Schelling afirmava, não era passível de ser observada, porque é a origem de tudo o que é observável. Manifestando-se apenas no que cria.

Talvez a origem de tudo o que existe tenha sido uma hipótese primeira aventada pela articulação deste Nada entre si. Uma causa primeira feita necessária pela entropia, que condiciona constante mudança e transformação. E será ao Nada que eventualmente todo o Universo irá, portanto, colapsar quando a articulação dessa hipótese primordial se exaurir e terminar.

Na ciência é aventada a hipótese do universo ocorrer de forma cíclica, num encadeado de expansão, manutenção e contração, que se repete continuamente. Talvez esta seja uma dinâmica à qual obedece a realidade na sua totalidade. Num contínuo ciclo de reinvenção e colapso.

Investigação científica recente da Australian National University, aponta que o começo do universo, o lugar onde a mecânica quântica encontrou a relatividade geral foi o mais pequeno objecto possível: um instanton . Sugerindo que o universo pode se ter formado como um instanton , que tem um tamanho e massa específicos, em vez de uma singularidade, que é um hipotético ponto de infinita densidade e temperatura, que se expande no Big Bang.

E de acordo com a Teoria da Simulação, este universo concreto (material) pode ser uma simulação, como um programa de computador.

Pessoalmente eu acredito numa nova hipótese aventada: a teoria da auto-simulação do universo. Onde o universo é concebido como um ambiente para testar diferentes possibilidades lógicas de forma limitada, temporária e segura. Representando os seres essas mesmas possibilidades em teste, num sistema de realidade de ideias encapsuladas umas dentro de outras, como numa boneca russa. O universo como uma sub-ideia, e o ser humano como uma sub-ideia contida dentro da sub-ideia universo, contida dentro da sub-ideia de um multiverso.

Uma explicação para a matéria física, sugerida por físicos, é que são compostos energéticos estáveis, que assim mantêm a sua forma.

Todas estas ideias culminam na visão da realidade como essencialmente abstrata, baseada na energia, que se manifesta através da física - astrofísica, física clássica, física quântica, e para lá destas -, na biologia, na sociologia, ... Ininteligível na sua totalidade. Apenas possível de ser discutida e estimada, de forma limitada.

Mas claro que isto tudo é somente uma concepção da realidade, uma especulação educada, baseada em inúmeros factores, nomeadamente conceitos e investigação científicos, conceitos e ideias da história da filosofia, conceitos espirituais e religiosos, e experiências pessoais e entendimento íntimo, sem a possibilidade de ser testada - e comprovada ou rejeitada - na sua totalidade. Na qual não posso, em boa consciência, negar a possibilidade de estar a escolher e a rejeitar subconscientemente factos, de forma a apoiar e defender.

E se quisermos ter uma percepção da realidade, segundo o filósofo britânico Bradley, podemos considerar um estado pré-conceptual de experiência imediata no qual há diferenças, mas não separações. Um estado do qual a nossa consciência humana familiar, cognitiva e madura surge pela imposição de distinções conceptuais sobre as diferenças.

Para Bradley, a realidade era como este estado primitivo, mas não exatamente igual, pois transcende o pensamento em vez de ficar aquém dele, e tudo, até o próprio pensamento conceptual, está incluído em um todo abrangente e harmonioso.

Fontes:
  • «"Nothing" doesn’t exist. Instead, there is "quantum foam"», artigo de Don Lincoln, doutorado, cientista no Fermilab, para o espaço Big Think, disponível aqui;
  • «A surprise new "theory of everything" involves the symmetry between order and disorder», artigo de Denis Noble, fisiologista e biólogo, para o espaço Big Think, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 59 Hegel on Absolute Spirit», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 61 Whitehead's Process Philosophy», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 60 Post-Hegelian Idealism», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 70 Husserl and Heidegger», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «Francis Herbert Bradley», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «The Great Filter: a possible solution to the Fermi Paradox», artigo de Doug Adler, para o espaço Astronomy, disponível aqui;
  • «Nelson Mandela», artigo de Dilva Frazão, biblioteconomista e professora, para Ebiografia, disponível aqui;
  • «Albert Einstein», artigo de Dilva Frazão, biblioteconomista e professora, para Ebiografia, disponível aqui;
  • «"Cientistas descobrem uma "lei da evolução perdida" que se aplica a todas as coisas», artigo do espaço Zap.aeiou, disponível aqui;
  • «"What Does "Samsara" Mean in Buddhism?», artigo de Barbara O'Brien, jornalista, para o espaço Learn Religions, disponível aqui;
  • «Gottfried Wilhelm Leibniz», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «Arthur Schopenhauer», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «Mahatma Gandhi», artigo de Dilva Frazão, biblioteconomista e professora, para Ebiografia, disponível aqui;
  • «Introdução ao Holocausto», artigo do espaço Enciclopédia do Holocausto, disponível aqui;
  • «TV Documentary on Mad Cow Disease (2019)», vídeo do canal Mad Cow Disease Videos 2, disponível aqui;
  • «Norman Borlaug Nobel Symposia», artigo do espaço The Nobel Prize, disponível aqui;
  • «Emptiness (Śūnyatā)», artigo de Guy Newland, professor, para o espaço Oxford Biographies, disponível aqui;
  • «A new view of all objects in the universe», artigo da Australian National University para o espaço Phys.org, disponível aqui;
  • «Do we live in a computer simulation like in The Matrix? My proposed new law of physics backs up the idea», artigo do doutor Melvin Vopson para o espaço da Universidade de Portsmouth, disponível aqui;
  • «The Self-Simulation Hypothesis Interpretation of Quantum Mechanics», artigo do espaço MDPI Open Access Journals, disponível aqui;
  • «Why is matter stable?», artigo de Philip Ball, químico e físico, para o espaço Chemistry World, disponível aqui.

Nós vivemos em um mundo que compreendemos pela metade. Vemos uma moeda cair e sabemos - pela Física - que sofre o efeito da gravidade, que a faz cair em direção ao solo. Mas não sabemos como a espuma quântica faz emergir particular quânticas por toda o espaço físico aparentemente ao acaso, provocando resultados com discrepâncias do esperado teoricamente.

Nós identificamos ordem no nosso quotidiano, nas nossas vidas, mas também falhamos em explicar eventos que parecem não obedecer a uma lógica familiar.

Talvez a realidade esteja subordinada na sua essência a uma simetria entre a ordem e a desordem. Como no caso de uma ampulheta de areia quando virada de cima para baixo. A areia começa a se depositar ordenadamente da sua metade previamente vazia. E chega a um momento incerto onde uma pequena avalanche de areia, por incapacidade da pequena base inicial sustentar um crescente número de grãos depositados em cima de si, faz essa base de areia se alargar pela base do vidro da ampulheta, tornando-se capaz de sustentar mais areia sobre si. Tudo isto numa observação em que conseguimos atribuir ordem e desordem a diferentes partes e momentos da experiência.

Georg Hegel acreditava na existência de um Espírito Absoluto criativo que se desdobrava e realizava ao longo da História, na arte, na religião, na filosofia, nos eventos mundiais, através dos seres humanos. Sendo o ser humano um agente do impulso criativo dessa totalidade. Eu concebo que, para lá do homem, todo o ser vivo possa ser um agente criativo e de evolução desse Espírito Absoluto, realizando-se criativa e necessariamente no desenrolar da realidade.

Então seria como afirma a sabedoria popular:

"De hora a hora, Deus melhora."

O matemático e filósofo Alfred North Whitehead, por sua vez, considerava a criatividade como a fonte da realidade. E o fenómeno da criatividade em si como um processo em parte ordenado e intelegível, e por em outra parte instintivo e caótico, que produz um resultado final.

Arthur Schoppenhauer via a realidade como determinada da vontade, comandada pela vontade, subjugada pela vontade.

Talvez o princípio criador da realidade seja criatividade e vontade, a vontade criativa.

Whitehead acreditava também, como Hegel, na evolução desse espírito absoluto, da qual a evolução da natureza, da biologia, da flora seriam demonstrações.

Segundo Martin Heidegger nunca podemos conhecer verdadeiramente ninguém porque cada ser está em transformação. Há uma parte nele que está em mudança, e assim impossível de conhecer. E se a realidade é assim também?

E se a progressão da realidade no passado infinito desconhecido até ao futuro infinito por conhecer for obra de um Ser Absoluto que se está a descobrir criativamente, a conhecer e a transformar? Como Hegel e Whitehead intuíam?

Numa realidade total (o Absoluto) que transcende este espírito absoluto - como o filósofo idealista britânico Francis Herbert Bradley pensava - que procura compreender a realidade e a si próprio?

Para Hegel, no ato de tentar entender melhor o seu próprio ser, a inteligência compreende progressivamente mais o conceito de ser em si. A totalidade.

Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling considerava o ser humano incluído numa realidade inter-relacionada, hierarquizada numa série ascendente de potenciais, apresentando uma dualidade intrínseca, dos seres vivos concretos até à origem abstrata. E também via a arte necessariamente como uma representação de algo para lá do observável. Uma "espreitadela" ao reino incompreensível da própria natureza da realidade.

Nas palavras do escritor russo Anton Chekhov:

"O papel de um artista é levantar questões, não as responder."

E se essa dualidade nos seres humanos estiver relacionada aos princípios de ordem e caos na simetria basilar, e se expressarem no contexto da função dos seres, do seu propósito, dentro da criação divina? Faria sentido, que uma consciência naturalmente orientada à sua realização pessoal, seguindo um anseio de ordem e harmonia, se encontrasse pesada por um polo caótico, que normalmente se expressa na desordem e destruição, na negação dessa função. Assim como faria sentido que esta bipolaridade entre ordem e caos estivesse relacionada com a instabilidade e limitação associada à evolução criativa, ao crescimento existencial do Ser Absoluto em face do Absoluto, que fosse propriedade da base da existência em face da sua própria condição que a transcende, como acontece aos seus produtos.

E estas bipolaridades, assim, interagem entre si num conflito de antíteses, numa dialética entre extremos hegeliana (tese-antítese-síntese), onde a uma ideia (tese) se opõe outra diferente (antítese), procurando a conclusão do conflito em uma síntese que resulta de ambos os aspectos e da dinâmica entre eles.

Onde a realidade evolui não só em termos individuais, mas também coletivamente. Visto a realidade se organizar numa hierarquia. Universo, galáxia, sistema planetário, planeta, espécie, bando, corpo, orgão, célula, átomo, ... E nestas dimensões ocorrer também um fenómeno de dialética hegeliana.

E a isto pode-se adicionar a existência daquilo que se chama a Hipótese do Grande Filtro, onde para uma entidade (por exemplo, uma civilização) prosperar tem de ultrapassar determinados desafios existenciais (por exemplo, sustentabilidade ecológica) na sua evolução. E cuja falha causa a destruição profunda dessa entidade e a sua involução para um estado mais básico.

Bradley também considerava que há um determinado grau de realidade em todas as aparências.

Schelling defendia que os processos fundadores da realidade, que convertem o mundo não vivo para vivo são inconscientes. Estes estados que levam à formação da matéria orgânica, e da consciência e autoconsciência. E o acto da criação, segundo o qual toda a limitação ao criado é imposta, como condição de toda a consciência, não vem em si à consciência do criado.

Schelling também acreditava que a base da realidade só se manifestava através das suas criações, não se manifestando diretamente.

Talvez, como afirma o ditado popular:

"Pelos frutos se conhece a semente."

Para Schelling, estes produtos criados (entre eles o ser humano) são essa base da realidade a se limitar a si mesma, sendo estes sempre incompletos em si próprios. São como ondas num rio, que temporariamente mantêm a sua forma pela resistência ao movimento geral do fluído que as cria, se evidenciando, apesar do mesmo material cambiante - que constitui o resto do rio - fluir nelas e por elas.

Assim o ser humano, como todas as outras criaturas, é uma criatura que se sustenta e prospera no movimento, na mudança, na transição, e que ao abrandar ou parar decai, degenera, vai morrendo.

Já diz a sabedoria popular:

"Parar é morrer."

Albert Einstein também se referiu a isto ao proferir:

"A vida é como andar de bicicleta. Para manteres o teu equilíbrio, tu tens de te manter em movimento."

Isto leva-me à religiosidade particular de cientistas como o próprio Einstein, da qual eu professo também:

"Eu acredito no Deus de Espinoza que se revela a si próprio na harmonia ordenada do que existe, não em um Deus que se preocupa com os destinos e ações dos seres humanos."

Entretanto, uma equipa multidisciplinar de cientistas e filósofos dos Estados Unidos publicou um estudo na Proceedings of the National Academy of Sciences que sugere que a “lei do aumento da informação funcional” prevê que a evolução em todas as suas formas inevitavelmente leva a uma maior padronização, diversidade e complexidade nos sistemas naturais complexos.

A equipa concluiu que uma trajetória assimétrica com base na funcionalidade pode parecer antitética à análise científica, mas conjecturou que a seleção com base na funcionalidade é um processo universal que resulta em sistemas com informação funcional aumentada.

Com base nisto eu acredito que existe uma experiência e uma liberdade de arbítrio tão mais condicionada na consciência, quanto mais se move do Ser Absoluto para o indivíduo. Tendo o ser humano uma vontade condicionada interna e externamente por toda a estrutura que o inclui, mas ainda assim dotado da capacidade de escolher, dentro de sua limitação.

Embora de forma semelhante ao que as religiões orientais defendem, nomeadamente o Budismo com a noção de samsara, os seres humanos sós, com pouca orientação, ignorantes, entregues a si próprios pela natureza e sujeitos aos seus impulsos e caprichos, e sem ameaças à sua supremacia no mundo natural, limitam-se ainda mais na sua própria capacidade, cedendo às suas paixões, medos e seduções, experimentando o frenesim de existir - criando e entregando-se a ilusões temporárias em que gastam a maior parte da sua vida, e às quais se apegam, até pela maior tangibilidade destas à sua sensibilidade, que o resto da realidade que o rodeia e experimentam.

Gottfried Wilhelm Leibniz tinha uma ideia de que era muito apreciador:

"Nada toma lugar subitamente, e é uma das minhas maiores e melhor confirmadas máximas que a natureza nunca dá saltos."

Tudo na natureza ocorre de forma ordeira. Pequenas transformações, a princípio invisíveis, se acumulam e eventualmente torna-se visível a mudança delas composta. Com os fenómenos da natureza a exibirem um princípio, um meio e um fim na sua manifestação.

Da mesma forma acredito que seja a existência individual, até como fenómeno natural que é. Com o começo a ser - acredito eu - com a formação do espírito e o fim com a dissolução dele, com o meio correspondendo à sua existência.

E como os seres vivos são uma espécie de sistemas inteligentes autónomos, a sua morte os levará de volta à natureza, onde podem ser reutilizados, como um programa de computador, na sua totalidade ou apenas em alguns dos seus aspetos na evolução do Absoluto. Como afirma de certa forma o conceito da reincarnação.

Com isto eu acredito no conceito do destino. Não um imutável e pesado, mas um fléxivel e subtil. Uma espécie de prognóstico educado do Absoluto, que se manifesta nas nossas vidas como que por uma atração invisível que nos leva - aos seres vivos - a mover em uma determinada direção. Acredito que seja previsível e linear esta força, embora para nós se manifeste de forma misteriosa, por vezes nos surpreendendo e até chocando, porque ignoramos as causas que nos trouxeram até onde nos trouxeram e nos impelem na direção que nos impelem. Mas que pode ser contrariado, com isto trazendo maior caos e desordem momentaneamente à existência individual e à realidade envolvente, que se manifesta visivelmente em alguma confusão, dor e sofrimento, um transtorno momentâneo, onde a realidade envolvente rapidamente se transforma para se adaptar e comportar a mudança, e proporcionar uma nova realidade, e destino.

Leibniz criou o chamado Princípio do Melhor, em que defendia que a realidade era como era por uma razão, e assim seria a melhor possível. Eu acredito que esta força do destino é a manifestação dessa intenção de forma absoluta. Uma pressão ao melhor desfecho, não para um indivíduo específico, mas para a totalidade da realidade.

Por sua vez, Arthur Schopenhauer acreditava que esta realidade era a pior de todas as possíveis, pela insuportável e opressora força da vontade que nos avassala e nos pressiona de forma imparável, e que não nos dá descanso.

Pessoalmente, eu acredito que esta é a realidade possível. A possível, de entre a melhor intenção e a pior necessidade.

Na problemática do mal - Porque o mal existe? - esta visão da realidade oferece uma resposta lógica. Acaba assim com o conflito entre duas divindades limitadas e opostas (o deus criador e bom e o seu contrário mau e destruidor) - de tantas religiões - considerando Deus limitado, apesar da sua dimensão inintelegível, que se manifesta somente no produto da sua criação. Um deus limitado pela sua própria natureza contigente a uma realidade absoluta, que o ultrapassa e não controla, e também ele a evoluir, com a sua inteligência e poder extraordinários, mas limitados, e assim expressando também uma bondade relativa. Desta forma, como diz na sabedoria popular:

"Deus escreve direito por linhas tortas."

Outro problema relacionado à existência do mal é a questão da justiça. "Onde está a justiça?", muitas vezes nos perguntamos. E pela mesma lógica, uma justiça cega e verdadeiramente justa não serviria a evolução individual e coletiva do Absoluto. Pois se condenarmos forçosamente o assassino, pelo seu acto, a ser assassinado, a todo o evento que ele despoletou sobreviverá apenas a ferida por ele criada. A civilização humana, com a justiça dos tribunais, procura condenar mas também reabilitar à vida coletiva, e, na sua assumida incapacidade para o fazer, afastar o criminoso do resto da sociedade, idealmente. Assim os tribunais procuram realizar uma aproximação da real justiça, ponderada pela sensibilidade. Pois a real justiça não serve os interesses do coletivo. Como defendia Mahatma Gandhi:

"Um olho por um olho, deixará o mundo todo cego."

Um exemplo interessante disto, é a forma como Nelson Mandela procurou conduzir a África do Sul no seu mandato como presidente democraticamente eleito. Um homem que passou a maioria da sua vida como preso político, em vez de procurar retribuir a violência e o racismo com que foi tratado pelos seus captores, e vingar a perda de uma larga parte da sua vida, se esforçou em conciliar todos os sul africanos e criar uma nação homogénea.

Mas ações que pela sua especificidade desafiam a imaginação são impossíveis de avaliar com precisão, positivas ou negativas, resultam numa aproximação grosseira da sua justa recompensa. Crimes como o genocídio de judeus no Holocausto ou a responsabilidade do governo de Margaret Thatcher na disseminação da Encefalopatia espongiforme bovina (doença das vacas loucas) pela população mundial, descontando corrupção e tráfico de influências nos tribunais e na comunidade internacional, são impossíveis de conceber e assim impossível de fazer justiça. Mas também feitos magnânimos, como o trabalho do agrónomo americano Norman Borlaug, que liderou iniciativas pelo mundo fora que contribuíram para aumentos significativos na produção agrícola, e levaram a uma diminuição da fome a nível mundial.

Schopenhauer defendia que a vontade, em si, é o motor da realidade, que é a base de tudo o que existe. E a necessidade, em si, é um fenómeno secundário, superficial. Mas eu defendo que a vontade e a necessidade correspondem à natureza, à essência, da realidade. Pois, empiricamente, a vida humana depende da vontade do ser humano, mas também é determinada pelas suas circunstâncias e pelas ramificações inevitáveis da ação, que em conjunto concretizam - de forma necessária - a realidade da vida humana.

Assim eu acredito que nos devemos abster de aplicar noções de moralidade humana, a uma existência que apesar de ininteligível na sua totalidade, talvez se assuma como marcadamente limitada e familiar. Ou se o queremos fazer, devemos nos olhar ao espelho sinceramente, e deixar de nos refugiarmos na nossa limitação humana como resposta à percepção dos nossos erros, assumindo a totalidade da responsabilidade pelas nossas ações num mundo estranho, que nos ultrapassa. E veremos que isto é incoerente. Devemos sim, por fim, aceitar Deus - se acreditamos na existência de Deus- e nos aceitarmos a nós por inteiro. Com as nossas virtudes e defeitos, limitações e vontades, sem fugas psicológicas.

A existência humana como um reflexo limitado e temporário de uma realidade ilimitada e intemporal, de uma existência absoluta que é primeiramente uma certeza abstrata.

E se este Absoluto fosse o 'Nada', a que os budistas aludem, para a essência da existência humana?

Empiricamente, quando procuramos imaginar "nada" surge sempre algo. Talvez um espaço populado pelo negrume, talvez uma divisão vazia. Mas sempre alguma coisa.

E a própria física aceita que o absolutamente nada não existe.

Talvez a base da realidade seja realmente uma dimensão abstrata viva primordial - um nada -, que é a base sensível de tudo: a natureza em si própria. Que, como Schelling afirmava, não era passível de ser observada, porque é a origem de tudo o que é observável. Manifestando-se apenas no que cria.

Talvez a origem de tudo o que existe tenha sido uma hipótese primeira aventada pela articulação deste Nada entre si. Uma causa primeira feita necessária pela entropia, que condiciona constante mudança e transformação. E será ao Nada que eventualmente todo o Universo irá, portanto, colapsar quando a articulação dessa hipótese primordial se exaurir e terminar.

Na ciência é aventada a hipótese do universo ocorrer de forma cíclica, num encadeado de expansão, manutenção e contração, que se repete continuamente. Talvez esta seja uma dinâmica à qual obedece a realidade na sua totalidade. Num contínuo ciclo de reinvenção e colapso.

Investigação científica recente da Australian National University, aponta que o começo do universo, o lugar onde a mecânica quântica encontrou a relatividade geral foi o mais pequeno objecto possível: um instanton . Sugerindo que o universo pode se ter formado como um instanton , que tem um tamanho e massa específicos, em vez de uma singularidade, que é um hipotético ponto de infinita densidade e temperatura, que se expande no Big Bang.

E de acordo com a Teoria da Simulação, este universo concreto (material) pode ser uma simulação, como um programa de computador.

Pessoalmente eu acredito numa nova hipótese aventada: a teoria da auto-simulação do universo. Onde o universo é concebido como um ambiente para testar diferentes possibilidades lógicas de forma limitada, temporária e segura. Representando os seres essas mesmas possibilidades em teste, num sistema de realidade de ideias encapsuladas umas dentro de outras, como numa boneca russa. O universo como uma sub-ideia, e o ser humano como uma sub-ideia contida dentro da sub-ideia universo, contida dentro da sub-ideia de um multiverso.

Uma explicação para a matéria física, sugerida por físicos, é que são compostos energéticos estáveis, que assim mantêm a sua forma.

Todas estas ideias culminam na visão da realidade como essencialmente abstrata, baseada na energia, que se manifesta através da física - astrofísica, física clássica, física quântica, e para lá destas -, na biologia, na sociologia, ... Ininteligível na sua totalidade. Apenas possível de ser discutida e estimada, de forma limitada.

Mas claro que isto tudo é somente uma concepção da realidade, uma especulação educada, baseada em inúmeros factores, nomeadamente conceitos e investigação científicos, conceitos e ideias da história da filosofia, conceitos espirituais e religiosos, e experiências pessoais e entendimento íntimo, sem a possibilidade de ser testada - e comprovada ou rejeitada - na sua totalidade. Na qual não posso, em boa consciência, negar a possibilidade de estar a escolher e a rejeitar subconscientemente factos, de forma a apoiar e defender.

E se quisermos ter uma percepção da realidade, segundo o filósofo britânico Bradley, podemos considerar um estado pré-conceptual de experiência imediata no qual há diferenças, mas não separações. Um estado do qual a nossa consciência humana familiar, cognitiva e madura surge pela imposição de distinções conceptuais sobre as diferenças.

Para Bradley, a realidade era como este estado primitivo, mas não exatamente igual, pois transcende o pensamento em vez de ficar aquém dele, e tudo, até o próprio pensamento conceptual, está incluído em um todo abrangente e harmonioso.

Fontes:
  • «"Nothing" doesn’t exist. Instead, there is "quantum foam"», artigo de Don Lincoln, doutorado, cientista no Fermilab, para o espaço Big Think, disponível aqui;
  • «A surprise new "theory of everything" involves the symmetry between order and disorder», artigo de Denis Noble, fisiologista e biólogo, para o espaço Big Think, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 59 Hegel on Absolute Spirit», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 61 Whitehead's Process Philosophy», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 60 Post-Hegelian Idealism», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «A History of Philosophy | 70 Husserl and Heidegger», vídeo de Arthur F. Holmes, professor de Filosofia da Universidade de Wheaton, disponível aqui;
  • «Francis Herbert Bradley», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «The Great Filter: a possible solution to the Fermi Paradox», artigo de Doug Adler, para o espaço Astronomy, disponível aqui;
  • «Nelson Mandela», artigo de Dilva Frazão, biblioteconomista e professora, para Ebiografia, disponível aqui;
  • «Albert Einstein», artigo de Dilva Frazão, biblioteconomista e professora, para Ebiografia, disponível aqui;
  • «"Cientistas descobrem uma "lei da evolução perdida" que se aplica a todas as coisas», artigo do espaço Zap.aeiou, disponível aqui;
  • «"What Does "Samsara" Mean in Buddhism?», artigo de Barbara O'Brien, jornalista, para o espaço Learn Religions, disponível aqui;
  • «Gottfried Wilhelm Leibniz», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «Arthur Schopenhauer», artigo de Stanford Encyclopedia of Philosophy, disponível aqui;
  • «Mahatma Gandhi», artigo de Dilva Frazão, biblioteconomista e professora, para Ebiografia, disponível aqui;
  • «Introdução ao Holocausto», artigo do espaço Enciclopédia do Holocausto, disponível aqui;
  • «TV Documentary on Mad Cow Disease (2019)», vídeo do canal Mad Cow Disease Videos 2, disponível aqui;
  • «Norman Borlaug Nobel Symposia», artigo do espaço The Nobel Prize, disponível aqui;
  • «Emptiness (Śūnyatā)», artigo de Guy Newland, professor, para o espaço Oxford Biographies, disponível aqui;
  • «A new view of all objects in the universe», artigo da Australian National University para o espaço Phys.org, disponível aqui;
  • «Do we live in a computer simulation like in The Matrix? My proposed new law of physics backs up the idea», artigo do doutor Melvin Vopson para o espaço da Universidade de Portsmouth, disponível aqui;
  • «The Self-Simulation Hypothesis Interpretation of Quantum Mechanics», artigo do espaço MDPI Open Access Journals, disponível aqui;
  • «Why is matter stable?», artigo de Philip Ball, químico e físico, para o espaço Chemistry World, disponível aqui.
[divisor maior]
[divisor menor]
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